Gazeta Itapirense

Circo Venegas: um ano de uma espera interminável

Nesta segunda-feira completa-se exatamente um ano da chegada ao Circo Venegas a Itapira. Era a terceira turnê da trupe na cidade. O casal Maurício e Carmela Venegas, proprietários, calculavam uma boa temporada, dados os resultados das incursões anteriores.

A estreia ocorreu alguns dias depois, sexta-feira, dia 06. Espetáculo no sábado e no domingo. Segundo relato de Maurício, nada muito excepcional para a realidade com que este tipo de companhia está acostumado em lidar, com público suficientemente numeroso para fazer frente às despesas.

Na terça-feira, dia 10, a notícia do fechamento imposto pela prefeitura para atividades não essenciais e determinação de medidas de isolamento e distanciamento social caíram como uma bomba. Maurício relatou para A GAZETA que tinha uma pontinha de desconfiança de que algo parecido pudesse ocorrer. Ligado no noticiário, ouvia atentamente o alarido produzido pelo novo vírus que empesteava parte da Europa e chegava ao país.

Seu circo é uma espécie de “costela de Adão” do inesquecível Circo Garcia, onde ele e a mulher trabalharam quase que a vida toda. Depois do fechamento do Garcia em 2002, Maurício decidiu criar sua própria companhia. “Certa vez quando excursionávamos com o Garcia no exterior, tivemos um caso parecido e as atividades foram suspensas por causa de uma doença que se propagava”, recordou.

Diante da situação criada, das 35 pessoas que tinham vínculo direto com o Venegas, apenas 11 decidiram permanecer. Os que decidiram partir, tinham outras opções para residência. Os que permaneceram representam a essência do artista circense, aquele que vive na estrada e mora em trailers. O caso de Maurício é muito semelhante ao do capitão de um navio que naufraga: será sempre o último a abandonar o barco.

Maurício e Carmela elogiaram e agradeceram à generosidade dos itapirenses

Solidariedade

Não demorou muito para que as primeiras dificuldades do isolamento se fizessem sentir. Sem renda, a trupe sentiu na carne o peso das contas vencendo. A situação só não se tornou mais aflitiva por causa da solidariedade das pessoas. À primeira informação de que os remanescentes enfrentavam dificuldades, muitas pessoas de mobilizaram para levar ajuda. Até o proprietário do terreno onde o circo se instalou deu uma moratória – que perdura até hoje.

Com o decorrer do tempo, Maurício intuiu que seria necessário imaginar outras formas de fazer renda e desta forma, um veículo do circo passou a percorrer as ruas oferecendo guloseimas normalmente vendidas durante os espetáculos, cujo carro chefe é a maçã do amor. “Das despesas fixas que temos, aquela que ainda hoje come a gente pelas pernas é energia elétrica”, reclamou.

 

Dificuldades

Um ano depois, Maurício constata que a ajuda diminuiu, observando, porém, que a grande maioria das pessoas enfrenta atualmente dificuldades que não existiam um ano atrás.

A GAZETA quis saber do casal se no atual momento eles se ressentem de algum tipo de ajuda. Dona Carmela disse que gostaria de receber donativos em material de limpeza, “principalmente sacos de lixo”. Ela explica que o compromisso assumido junto ao dono do terreno em manter o local sempre bem conservado exige uso dos sacos de plástico para acondicionar o mato que é removido.

Carmela disse ainda que no início da crise, sem ter um entendimento claro do que significava este tipo de expediente, lhe foi oferecida uma “vaquinha virtual”, daquelas que recolhem donativos na Internet. “Diante da generosidade das pessoas, naquele momento não enxergamos necessidade de uma mobilização deste nível e declinamos. Mas acho que chegou o momento. Se tiver alguém que nos ensine como fazer isso, ficaremos muito agradecidos”, solicitou.

 

 

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