Gazeta Itapirense

Editorial: Bolsonaro volta ao ninho

Em 2018, Bolsonaro foi eleito depois de conquistar milhões de admiradores aguerridos que viam nele um ser sobrenatural e passaram a chama-lo de Mito. Era visto como um político diferente de tudo o que estava ali. Ele prometia endireitar o país. Zelava a fama de político honesto e prometia acabar com a corrupção. Bolsonaro é político desde 1988.

O Centrão nasceu na Assembleia Constituinte, em 1987, do agrupamento de políticos do chamado baixo clero, deputados sem projeção nacional, integrantes de partidos sem nomes competitivos para disputar eleições presidenciais, um fator de garantia na movimentação livre entre os demais grupos políticos. Sem peso numa eleição nacional, imprescindível nas votações dos projetos de interesse de qualquer governo. Os votos do Centrão sempre dependeram do famoso “toma lá dá cá”.

Não se pode dizer que o Centrão está alinhado com a direita, como Bolsonaro gostaria. O negócio é ser governo. Estiveram ao lado de FHC, de Lula, de Dilma e de Temer. A “ideologia” que prevalece no Centrão tem um nome: fisiologismo. Apesar dos ganhos, o Centrão é frágil na adesão: enquanto o governo vai bem, tudo bem, quando o governo vai mal, pulam do barco como se nada tivesse acontecido.

Fragilizado diante da má condução da Covid e, agora, diante dos indícios de corrupção no governo, Bolsonaro declara que é Centrão desde criancinha. Chamou para ocupar o principal ministério do seu governo, a Casa Civil: Ciro Nogueira. Para quem tem memória longa, o Centrão esteve e está envolvido na maioria dos grandes e pequenos processos de corrupção desde país. Não por acaso, em meados de 2018, o General da Reserva Augusto Heleno cantou: “se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão” e completou: “O Centrão é a materialização da impunidade”.   O lema do Centrão, há mais de trinta anos, continua sendo: “É dando que se recebe!”.

O Centrão não brinca em serviço, o processo que levou Bolsonaro às suas hostes exigiu casamento de sangue, não de agora. Bolsonaro precisou desmontar parcialmente as principais estruturas de investigação como: COAF, PF, MPF e PGR. Exigiu a criação do Orçamento Paralelo para gastos secretos na ordem de 20 bilhões de reais. Incluiu vários “jabutis” para a aprovar a privatização da Eletrobrás, que segundo a FIESP custará ao país R$ 400 bilhões. E mais recentemente, o gol de ouro: o golpe do Fundão Partidário, onde a pedida foi de R$ 5,7 bilhões, o triplo, usando a velha estratégia de pedir mais para cair perto do desejado: se a proposta inicial fosse R$ 4 bilhões, seria condenado e teria que ser reduzido, o fundo será de R$ 4 bilhões, para que o dobro seja melhor que o triplo.

Não é novidade: o Centrão nada de braçada nos governos fracos, mas não consegue salvá-los do afogamento.

Compartilhe
error: