Gazeta Itapirense

Dissídio coletivo do comércio traz inflação alta de volta à mesa de negociação

O Sindicato dos Comerciários (Sincomerciário) que representa a maior parte os trabalhadores em estabelecimentos comerciais da cidade e o Sindicato do Comércio Varejista de Itapira (Sicomvit) que representa o empresariado, finalizaram na última semana de outubro o acordo coletivo de trabalho, que prevê o cumprimento de uma agenda de compromissos firmados entre as duas partes.

Ficou acertado que os comerciários terão um reajuste de 10,42% retroativo a setembro, mês da data base, que em tese deveria ter sido pago no mês outubro. Conforme apurou A GAZETA, o índice, na verdade corresponde à inflação apurada pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC) de setembro de 2020 a agosto de 2021. Não houve ganho real para os comerciários. Ainda sim, o piso salarial da categoria subiu na cidade para R$ 1.635,73.

Conforme apurou a reportagem, as negociações que tiveram início em setembro, foram difíceis para as duas partes. Do lado dos empregados, a lista de exigências continha pedido de ganho real de salário em até 3%, cesta básica no valor de R$ 10,00 por dia ou R$ 200,00 por mês e até vale gás. A direção do Sicomvit argumentou que a grande maioria das lojas vem de um período de dificuldades por conta dos estragos feitos pela pandemia e que seria impossível levar adiante estas reivindicações. Ao final, após muitas horas de conversa, foi batido o martelo pela reposição da inflação do período.

O acordo vale para a maioria dos estabelecimentos comerciais, incluindo aí os supermercados, mas deixa de fora outros que têm atuação específica como por exemplo, postos de combustíveis, farmácias, bares, restaurantes, lanchonetes e similares.

 

Queixas

 

Embora tenha sido concedido apenas a reposição inflacionária – que segundo o departamento jurídico do Sicomvit é obrigatória – houve quem se queixasse da forma com que a negociação foi conduzida. “A maioria dos lojistas está descapitalizada por causa de tudo o que ocorreu até agora. Acho que a negociação poderia ter sido conduzida de forma que examinasse a possibilidade de um parcelamento na aplicação deste reajuste”, disse um comerciante sob condição de anonimato. Um outro, do setor de vestuário, corroborou com o pensamento. “Faltou sensibilidade na hora de negociar alguns pontos. Estamos em um processo de recuperação. Isso deveria ser levado em consideração”, colocou.

Uma comerciante da região central contou que desde a pandemia, cortou metade dos 08 colaboradores que mantinha até então. “Precisei demitir porque o faturamento caiu muito.Esse aumento, evidentemente, vai impactar meu balanço financeiro. Terei que fazer contas novamente”, colocou.

Mas as negociações receberam também elogios. Um comerciante do setor calçadista, que dá emprego a 4 colaboradores, acredita que o Sindicato patronal agiu bem. “Foi negociada apenas a reposição inflacionária. É algo garantido por Lei. Não tem o que fazer. A verdade é que se a população de uma certa forma não tiver como se proteger da inflação, isso vai respingar exatamente no comércio. As vendas tenderão a diminuir. Sou sim favorável à negociação”, manifestou-se.

O advogado Antônio Luís Casetta, do Sicomvit, comentou que uma negociação em que fosse colocada em discussão a possibilidade de se “fatiar” o reajustes, conforme reivindicavam alguns lojistas, a discussão iria se prolongar sem garantia de que fosse feito um bom acordo para os comerciantes. “Inevitavelmente a outra parte iria querer compensações que tornaria a medida inócua”, defendeu. Casetta mencionou ainda que o pagamento retroativo da diferença negociada poderá ser dividido até janeiro do ano que vem.

Para ele, a negociação extraiu dos dois lados aquilo que era possível. O acordo de Itapira reverbera também em Santo Antônio da Posse, onde os dois sindicatos atuam. No total, o Sicomvit tem que gerir acordos salariais em 11 cidades. Em todas elas, segundo Casetta, a direção da entidade fincou pé na impossibilidade de conceder aumento  real.

A negociação entre comerciantes e comerciários serve de alerta para outras categorias. Com a inflação em disparada, já batendo em dois dígitos na maior parte dos Estados, as negociações salariais serão a partir de 2022 bastante complicadas, inclusive para o setor público. O momento atual promete trazer de volta o protagonismo que as entidades sindicais tinham antes do Plano Real, que derrubou uma inflação de mais de 80% ao mês.

Para Sicomvit, reposição inflacionária do período foi aquela possível no atual momento

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