Gazeta Itapirense

Avanço da Covid interfere no tratamento de câncer

Diante do quadro de emergência sanitária que já há mais de um ano vem amedrontando a população do mundo todo, avançando de maneira irrefreável, drenando recursos financeiros, materiais e humanos para seu enfrentamento, existe a sensação de que outras enfermidades acabam sendo relegadas a um segundo plano na ordem das prioridades. Uma delas é exatamente o câncer, doença entre aquelas que mais matam em todo o Brasil.

A GAZETA conversou com a cirurgiã oncológica Dra. Amanda Zorzetto Antonialli, de 35 anos, que dá expediente na Santa Casa de Itapira todas às 5ªs Feiras e atua na linha de frente do Hospital Tabajara Ramos de Mogi Guaçu, referência do tratamento de casos de câncer pela rede pública aqui em nossa região.

A profissional listou diversos casos onde, segundo ela, os efeitos da pandemia acabam criando situações que prejudicam o atendimento a pacientes com câncer, até em sua prevenção. “Um número cada vez maior de pessoas fica com receio de sair de casa para comparecer a um centro de diagnóstico e realizar exames de prevenção”, apontou. Na literatura médica, descobrir precocemente a existência da doença é um fator que pode representar uma maior ou menor qualidade de vida do paciente.

Este tipo de preocupação é respaldado, segundo a especialista, em estudos já realizados apontando a queda de exames como por exemplo a mamografia, cuja realização caiu 63% entre março e julho do ano passado. Amanda teme ainda que a queda de renda da população possa mais à frente resultar no aumento do número de casos da doença por uma razão muito simples: a piora na qualidade da alimentação. Segundo ela, a forçosa substituição de alimentos mais saudáveis pelo consumo de outras categorias que abusam do uso de corantes e conservantes, pode implicar no surgimento de novos casos da doença em suas diversas manifestações.

A “concorrência” da covid pode ser sentida também no momento de uma cirurgia e na necessidade de vagas de UTI no pós-operatório, procedimento indispensável para a recuperação dos pacientes. “Passou a ser uma questão difícil de administrar a necessidade da vaga em UTIs para nossos pacientes”, comentou Amanda.

Conforme explicou, via de regra, neste processo de “escolha de Sofia” em que profissionais da área médica se defrontam diariamente, o paciente de câncer terá uma prioridade menor em comparação aos casos da covid. Os desdobramentos, segundo ela, são muito sérios. “A questão do tempo é fundamental para o paciente com câncer. Quanto mais tempo se passa, mais a doença se espalha”, observou.

A cirurgiã Dra. Amanda atende na Santa Casa de Itapira e no Hospital Tabajara Ramos em Mogi Guaçu

Custos

A cirurgiã aponta ainda para um outro efeito colateral que segundo ela vai apresentar a conta para a sociedade mais à frente, quando se deixa de atender aos pacientes com câncer com a velocidade necessária. “Quanto mais a doença evolui, evidentemente que maior será o risco do paciente vir a óbito e o custo do tratamento aumenta exponencialmente cada vez que o estágio da doença avança. Esta fatura ainda vai ser apresentada mais à frente e vai custar caro”, projetou.

A GAZETA perguntou a ela em Itapira existem muitos pacientes com câncer. Dra. Amanda disse que embora não tivesse em mãos no momento da entrevista dados oficiais para respaldar sua percepção, avaliou que “Itapira tem muitos pacientes” com as diversas formas da doença. Muitos deles já passaram por suas mãos no Hospital Tabajara Ramos, em Mogi Guaçu, cidade da qual é natural e onde reside.

 

 

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