Gazeta Itapirense

Nossa História: Esses homens inesquecíveis e suas vozes maravilhosas

O rádio sempre foi, para mim, um grande companheiro. Sempre gostei de ouvir e aprender.

Desde criança, quando o rádio reinava absoluto nas casas, sempre tive nele um grande companheiro. Por isso sempre afirmou que sou de um tempo em que o rádio era o melhor companheiro que se tinha. Televisão era para poucos, computador, então, só se via em filme de ficção e internet nem se cogitava.

Um tempo mais romântico, em que as pessoas tinham seus locutores e cantores favoritos e os programas prediletos. As músicas eram realmente melodias e tinham um significado real em suas letras.

Dácio Clemente (à esquerda) passou décadas fazendo sucesso nos microfones da Clube Foto – tempossaudososplinio.blogspot.com

Lembro bem que minha mãe tinha predileção pelos programas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Adorava o programa comandado pelo César de Alencar, um campeão de audiência e que levava em seu programa os mais famosos cantores daquela época.

Minha mãe tinha seus cantores favoritos como as irmãs Linda e Dircinha Batista, Francisco Alves, que já havia falecido, mas que continuava fazendo sucesso, Marlene, Emilinha Borba e outras famosos daquela época eram vozes constantes nas tardes de minha infância. Eu gostava de ficar ali, ao lado dela, sentado em sua cama, ouvindo aquelas pessoas que eu não conhecia, mas que preenchiam minha imaginação com suas canções.

Dácio Clemente fez história com seus programas atendendo ouvintes pelo telefone Foto – Portal Megaphone

Para aquele menino magricela de orelhas grandes ouvir rádio era deixar a mente viajar para lugares distantes e bonitos. Eu ficava ali horas e horas, vendo minha mãe fazer crochê ou tricô e ouvindo aquele som carregado de estática que saía do rádio.

Aquele era um tempo diferente. As pessoas sabiam as letras das músicas e gostavam de cantá-las.

Quando chegava o Carnaval o rádio trazia as novas marchinhas, as músicas que satirizavam personagens famosos ou até mesmo políticos, apesar da censura forte que existia. Até as crianças cantavam as músicas carnavalescas apesar de não saberem o verdadeiro significado daquilo que estavam cantarolando.

Na Rádio Clube não era diferente. Grandes vozes passaram por seus microfones e eram igualmente ouvidas em casa. Dácio Clemente, a maior delas, era campeão de audiência em minha casa, como em toda a cidade e região.

Como em casa não tinha telefone, era na do vizinho, o maestro Américo Passarella, que eu ia tentar ligar no seu programa para pedir uma música. Lembro que primeiro se falava com a telefonista para depois ter a ligação completada.

Era difícil conseguir, mas às vezes dava certo e eu voltava pra casa feliz por ter falado na rádio, pedido uma música e oferecido para minha mãe, minha irmã e para todos que estavam ouvindo.

Hoje não se vê e nem se ouve mais nada disso. Tudo ficou no passado, um passado que não volta mais, mas que está bem guardado em minha memória.

Aquilo tudo, mal sabia eu, seria a base para minha vida profissional. Foi ali que comecei a gostar de rádio, a gostar de ouvir seus comunicadores e as músicas.

Por isso que acredito que tudo na vida tem seu verdadeiro significado.

Às vezes penso em ligar o rádio para buscar tudo aquilo de volta, mas acabo lembrando que não basta apenas ligar o aparelho, pois aquele tempo já passou e nada será igual. Aquelas vozes já se calaram, os cantores famosos já não existem mais e as músicas daquela época ficaram esquecidas no tempo ou guardadas na memória de quem viveu aquele tempo.

Mas, felizmente, guardo comigo dois personagens desse tempo que não volta mais. Vozes maravilhosas e pessoas inesquecíveis. Dois grandes locutores com os quais tive o prazer e a honra de conviver, trabalhar e aprender.

Paulo Roberto Marin foi meu colega de escola e, mais tarde, meu companheiro de trabalho. Lembro que a gente cursava o quarto ano ginasial e ele, depois da aula, tinha que voar para a Rádio Clube para apresentar seu programa, que começa às quatro. Só que a aula terminava dez para as quatro e a caminhada até a praça, onde a emissora ficava (onde hoje está a agencia do Banco do Brasil), era feita a passos largos e acelerados.

Paulo Roberto Marin, na foto com Waldemar Silvestre e Jorge Luiz Bonaldo, companheiros de Clube, na inauguração do Chopinho Foto – Acervo João Batista Martins

Mais tarde, na década de 80, quando fui trabalhar na Clube, tive o prazer de conviver ainda mais com ele e aprender um pouco mais com seu carisma e seriedade.

Além disso, durante suas férias era a mim que recorria para substituí-lo na apresentação do famoso Super Plá.

Além de grande locutor, Paulo Roberto Marin era músico Foto – Acervo Luiz Antonio Fonseca

Sobre Dácio Clemente, outra inesquecível voz do rádio regional, não há como não citar que gerações e gerações cresceram ouvindo seus programas e repetindo seu jargão mais conhecido: boa tarde Itapira, boa tarde Leste Paulista, boa tarde Sul de Minas, boa tarde… meu amor.

Era assim que encerrava seu programa, que eu também tive a honra de apresentar quando o Dácio precisava se ausentar. Com ele aprendi também a respeitar horários e patrocinadores. Seu programa começava às 10 da manhã e terminava exatamente ao meio-dia. Mas, se por um acaso começasse com atraso, certamente terminaria com o mesmo atraso, pois ele não pulava intervalos.

Dácio Clemente, assim como Paulo Marin, marcou época nos anos de ouro do rádio Foto – Acervo Humberto Butti

Dois homens inesquecíveis e suas vozes maravilhosas. Dácio Clmente e Paulo Roberto Marin, cada um a seu modo, com um imenso carisma e extremo profissionalismo. Cada um marcou época no rádio e em nossas vidas.

 

Coluna publicada originalmente nas páginas da versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense de 29 de junho de 2013, pelo jornalista Humberto Butti

 

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