Gazeta Itapirense

Editorial: Itapira e a elitização da vacina

O mundo e o Brasil já constataram que as infecções e mortes por Covid-19 são maiores entre os pobres residentes em bairros periféricos, em qualquer cidade. Pesquisas universitárias, dados governamentais e estudos patrocinados pelo FMI estabeleceram relação direta entre a pobreza e a pandemia. Não faltam motivos para amparar essa triste conclusão.

Normalmente, nesses bairros, há concentração maior de pessoas por metro quadrado; o relacionamento é mais afetuoso e constante; as pessoas precisam sair de casa para ganhar o pão de cada dia; nem sempre há assistência médica rápida e adequada. Tudo isso conspira para a proliferação do vírus e para o aumento do contágio. Acostumados com sintomas leves de outras doenças, curadas com o tempo, com ou sem remédio, nem todos procuram as unidades de saúde aos primeiros sinais.

A quarentena, o distanciamento físico e o uso de máscaras nem sempre são ferramentas eficazes para conter o avanço da pandemia quando medianamente implementadas, seja por desinformação ou pelas necessidades do dia a dia. Resta, para esse público em particular, a vacina como única possibilidade de redução das internações e das mortes.

Inexplicavelmente, ao que indicam os informes oficiais, a Prefeitura de Itapira adotou um único ponto para vacinar todas as pessoas do município dentro do cronograma de vacinação: o Parque Juca Mulato. O município é dotado de bairros urbanos distantes do centro, sem falar na extensa área rural.

Devemos questionar: será que todas as pessoas que moram em Itapira têm acesso às informações oficiais divulgadas pela prefeitura? Será que todos os idosos e pobres têm facilidade de deslocamento até o Parque Juca Mulato? Quantos itapirenses deixaram de ser vacinados, apesar da disponibilidade de doses e do desejo deles pela vacinação? Talvez não tenhamos respostas a essas e outras perguntas pertinentes.

Cabe à administração municipal, se assim entender ser esta a sua responsabilidade, tomar providências para corrigir essa grande injustiça social: distribuindo mais postos de vacinação nos bairros e/ou montando equipes itinerantes ou domiciliares para atender as pessoas com dificuldade de locomoção. Todo esforço nesse sentido é salutar.

Nunca a nossa cidade foi tão ameaçada num curto espaço de tempo. Esse coronavírus é um desconhecido traiçoeiro. Na guerra contra ele não pode haver privilegiados. Os mais ricos, talvez com mais recursos de enfrentamento, não estarão sossegados enquanto a humanidade não sair vitoriosa.

É preciso aumentar a empatia, a compaixão, o abraço, mesmo virtual, para unir todos no mesmo sentimento, com vontade política e competência.

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