O dia que a ‘cabeça’ do Menotti rolou pelo barranco do Parque
O estreito relacionamento de Menotti Del Picchia com Itapira já rendeu muitas histórias e infindáveis trabalhos realizados pelos pesquisadores, não só de acontecimentos desta terra como também por aqueles que buscam conhecer melhor a vida do escritor, ou ainda os que cultivam interesse pela literatura.
Mas essa de ter a cabeça rolando pela encosta do Parque Juca Mulato só mesmo aqui em nossa terra. É isso mesmo! Menotti Del Picchia já perdeu a cabeça no local batizado com o nome de seu romance por lá inspirado.
Não se assustem com esta constatação. Afinal, a cabeça que saiu rolando é aquela mesma que hoje se encontra defronte a Casa da Cultura, na praça que leva o nome do homenageado, Menotti Del Picchia.
O fato ocorreu há muitos anos atrás, lá pelos idos do início da década de 1980, quando vândalos depredaram o monumento que fora erigido em homenagem a esse ilustre cidadão itapirense localizado no mesmo Parque Juca Mulato.
Tiraram a cabeça de bronze que ficava sobre um patamar de granito e a colocaram ribanceira abaixo.
O dito monumento fora elaborado pelo artista plástico e escultor Luiz Morrone a pedido do comendador Virgolino de Oliveira, para ser inaugurado no dia em que seria outorgado a Menotti Del Picchia o título de cidadão itapirense, pois este não havia aqui nascido, porém tendo chegado em nossa terra ainda pequeno.
Aqui viveu longos anos de sua vida e aqui também constituiu família. Então, nada mais justo que torná-lo filho desta terra. No dia em que completaria setenta anos, qual seja 20 de março de 1962, seria inaugurado seu busto e haveria uma seção solene na Câmara Municipal.
Porém, como este dia cairia em uma terça-feira, dificultando a vinda tanto do homenageado como pessoas de outras localidades, a cerimônia foi transferida para o dia 1º de abril, um domingo.
Na época o prefeito era Antonio Caio e na data firmada foi inaugurada a herma do poeta com a presença de grandes nomes da literatura nacional. Após o ato inaugural realizou-se ali mesmo, ao lado do monumento, uma sessão pública da Câmara Municipal, que outorgou a Menotti o título de cidadão itapirense.
A convite do Com. Virgolino de Oliveira e de sua esposa dona Carmem, os presentes se dirigiram para a sede da Fazenda São Joaquim, onde foi servido lauto almoço e à noite foram recepcionados na residência do casal, na Usina N. S. Aparecida, para participarem de um fino coquetel, cujo final apoteótico das homenagens ao poeta foi o funcionamento da majestosa fonte luminosa lá existente.
E, como reparação ao dano causado pelos ditos vândalos que depredaram tão significativo monumento, o mesmo foi reerguido e reinaugurado juntamente com a praça que leva o nome de Menotti, por indicação de nº 01/03 do Presidente da Câmara na época, vereador Jacomo Mandato, e acolhida pelo Prefeito David Moro Filho sob Decreto nº 25/83.
Com solenidade realizada em 20 de março de 1983, às onze horas, em comemoração aos 91 anos do escritor itapirense, a praça ao entorno da Casa da Cultura foi inaugurada, estando presentes os filhos de Menotti, os senhores Hélio Del Picchia e Fúlvio Del Picchi, acompanhado de sua esposa, a poetisa Terezinha Guerra Del Picchia, todos residentes em São Paulo.
Como o homenageado não pode se fazer presente, enviou a seguinte mensagem ao povo itapirense: “Esta é uma mensagem de gratidão e carinho ao povo itapirense. Não podendo estar presente dada a minha idade, a qual me priva da alegria deste encontro no instante em que vosso carinho batiza com meu nome uma das mais belas praças da cidade, vem-me à memória, e guardo no coração, tudo quanto mais generoso recebi nos dias mais felizes de minha vida nessa terra na qual passei parte de minha infância e depois, os dias mais alegres de minha mocidade. Tudo Itapira me deu: ao cidadão, a convivência com uma população laboriosa e culta; ao político, o apoio para a ascensão no comando; ao jornalista o adestramento polêmico e ao escritor e poeta, a riqueza dos temas dentro do esplendor das paisagens.
Foi aqui que nasceram as personagens dos meus romances, contos e histórias. Se tudo isso pude fazer durante a minha fase inicial de escritor, jornalista e poeta, foi porque encontrei nos habitantes da cidade estímulo e apoio.”
Depois da leitura desta mensagem por seu filho Hélio Del Picchia, o mesmo pronunciou, dentre outras, as seguintes palavras dirigidas ao povo de Itapira: “Amigos, que orgulho temos nós por termos nascido neste chão abençoado, cujo povo ordeiro encontra sua felicidade no trabalho honesto, benéfico e inteligente, onde toda fé cristã converge para um clima de paz e amor fraterno.