Gazeta Itapirense

Pés de café de Itapira e região ‘abortaram’ os frutos devido ao calor

Apontado como um dos vilões da inflação brasileira em 2024, o café teve seu valor de mercado aumentado em cerca de 40% devido à seca enfrentada nos meses que antecederam a florada. Produtores de Itapira e região notaram também o abortamento de frutos feito pelos pés.

Conversamos com Adeílton Tofoli, cafeicultor com tradição familiar no cultivo com mais de 130 anos de história na vizinha cidade de Jacutinga.

Ele nos enviou fotos tiradas de seu cafezal que mostram o abortamento de parte de sua produção: “esta é uma forma de defesa da planta, pra ela se manter viva ela aborta uma parte dos frutos, porque se ela segurar toda a carga ela acaba até morrendo por causa da falta de água”, explicou Tofoli que toda quarta-feira vende seu café moído na hora na Feira Noturna de Itapira.

Adeílton Tofoli viu parte de sua safra ser ‘abortada’

Tudo isso é resultado da forte estiagem que assolou boa parte do Brasil no ano passado.

O abortamento de frutinhos e de rosetas inteiras em ramos de cafeeiros pode ser provocado por déficit hídrico prolongado. O pegamento da florada, ou seja, a transformação de flores em frutos, sempre foi um fator chave influenciando a produtividade de cafeeiros.

“Café sem irrigação tá complicado. Qualquer chuvinha que dá em agosto ele solta a florada, só que depois não chove mais, fica até 60 dias sem chuva, aí cai a florada. Dá outra chuvinha, vem florada, e cai outra florada. É a situação do clima, não tem como escapar, o certo seria irrigar, mas quem tem dinheiro pra isso, e de onde vai tirar água para isso? Esse processo todo de chuva e seca atrapalha, além da produtividade, a colheita pois quando for a hora terá café verde, café maduro, café madurando. Não tem como o produtor fazer várias colheitas”, destacou o engenheiro agrônomo Luiz de Sá.

Para Luiz de Sá a saída seria a irrigação mas poucos têm dinheiro pra isso

Mão de obra e exportação

Para o chefe da Casa da Agricultura de Itapira, Carlos Eduardo Canivezzi Antunes, o clima ajudou a elevar o preço do café nos últimos meses, seja o calor ou as geadas que assolaram áreas produtoras do Brasil. Mas não foi só isso.

“Eventos climáticos extremos é a primeira questão. As geadas que tivemos em 2021, depois em 23 e em 24. São questões que ajudaram a diminuir a oferta no mercado, o que elevou o preço”, disse Dú Canivezzi.

Acostumado a conversar com agricultores em seu dia a dia, Canivezzi destacou outro ponto importante na diminuição da circulação do café no país: “está faltando mão de obra para o trato da lavoura e muitos produtores estão parando por causa disso, não é só o clima que diminuiu a oferta no mercado, falta gente pra tocar a lavoura”, destacou.

Ele também discorreu sobre outro fator determinante para a alta nos preços, a exportação: “o café brasileiro vem ganhando prêmios de qualidade importantes no exterior e a demanda pelo café brasileiro é muito grande hoje lá fora, com isso boa parte da safra vai embora”.

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