Orelhão: a agonia do sobrevivente da ‘Era do Celular’
Os primeiros telefones de acesso público foram lançados em meados de 1920, quando eles eram instalados em estabelecimentos comerciais autorizados pela empresa de telefonia da época. Pouco mais de 50 anos depois, chegou à população o telefone instalado nas calçadas, aberto ao acesso de todos. Em meados de 1972, a arquiteta brasileira Chu Ming Silveira lançou um tipo de proteção para o aparelho locado nas ruas, o famoso Orelhão. De lá pra cá, ele foi ganhando o apreço daqueles que precisavam se comunicar com alguém que estava longe.
Mas e agora? Como está a situação 50 anos depois?
A situação é diferente. Ao invés de fichas e cartões, quase todo mundo carrega no bolso um aparelho pequeno, capaz de contatar alguém do outro lado do país ou do mundo. E o velho fiel acabou ficando para trás.
Nossa reportagem saiu ás ruas para encontrar um ‘Orelhão’, mas não foi fácil. Em grande parte da região central da cidade não se vê mais o aparelho. Os únicos encontrados foram na Praça Bernardino de Campos e na rodoviária.
Os aparelhos que ficavam em frente da biblioteca, do Bairral, na esquina da igreja Santo Antônio, na rua da Penha e na Francisco de Paula Moreira Barbosa sumiram. Andamos por vários bairros e nada de ver aquela antiga ‘fartura’ de Orelhões pelas vias.
A procura pelos ‘cartões telefônicos’ com créditos caiu assustadoramente nos últimos tempos. Quem nos conta é o senhor Aloisio Souza, da Lanchonete São José.
Em seu estabelecimento são comercializados poucas unidades, e olha que ele está situado dentro da rodoviária local: “quem procura cartões são pessoas de mais idade ou aqueles que não tem celular. Mas a venda caiu muito”, contou Aloisio. Ao lado da Lanchonete São José tem dois aparelhos de telefone público, e ambos estão sem a ‘orelha gigante’. É como se fosse o adeus deste tipo de telefonia pública.
Em compensação tem gente que não concorda com essa tendência. A auxiliar de serviços gerais Rosinalva Santos Teixeira diz que usa e muito o ‘orelhão’: “Tem dia que não dá pra por crédito no celular, aí compro um cartão de telefone de 20 e dura bastante, falo até com minha primas que moram em Malacacheta, Minas Gerais’, brincou.
Por quanto tempo ele ficará à disposição da população é difícil prever. Fato é que ele ainda está lá, sobrevivendo nas ruas da cidade e à espera de alguém que o utilize para fazer uma das principais ações da humanidade: se comunicar.