Gazeta Itapirense

Onda de calor, dilúvio… O que mais precisa acontecer?, por Nino Marcati

Quem é essa força implacável que, sem aviso prévio, devasta vidas, arranca casas e sonhos? Desta vez, a fúria da natureza se abateu sobre o Rio Grande do Sul. Mas essa não é uma história isolada. É o clamor da Terra, ecoando cada vez mais alto.

Há três décadas, a ciência soa o alarme: reduzam a queima de combustíveis fósseis, protejam as florestas! Ao Brasil, cabia zerar o desmatamento na Amazônia, Mata Atlântica e Pantanal. Qual foi a nossa reação? Fingimos que não era conosco.

O degelo do Ártico, o aumento do nível do mar, as ondas de calor escaldantes, o desaparecimento de espécies, os ciclones impiedosos, as secas devastadoras… Tudo isso já era previsto. Mas preferimos ignorar os avisos, adiando a dura realidade.

Alguns culpam a natureza por seus caprichos, mas a verdade é nua e crua: a ação humana amplifica os ciclos naturais, transformando-os em eventos climáticos extremos de consequências imprevisíveis. O aquecimento global é a prova incontestável da nossa culpa.

O Brasil falhou em sua missão. Continuamos desmatando, aprovando leis antiambientais e elegendo representantes que cospem no futuro. Neste momento, 25 projetos de lei e 3 emendas constitucionais ameaçam o meio ambiente, e o que fazemos? Assistimos, inertes, à própria destruição?

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estudou as mudanças do clima nos últimos 60 anos e concluiu que houve aumento gradual das anomalias de ondas de calor em todo o Brasil. De 1961 a 1990, tivemos 7 dias de ondas de calor por ano. De 1991 a 2000 passamos para 20 dias. De 2001 a 2010, 40 dias. De 2011 a 2020, 52 dias. Em 2023, saltamos para 65 dias.

O que mais precisa ocorrer para reconhecermos o valor da vida? Não é hora de considerarmos o meio ambiente como uma prioridade para os próximos prefeitos e vereadores? Não seria o momento de exigirmos dos deputados e senadores que cessem o estímulo à destruição da natureza?

Que tal adotarmos o conselho de Raul Seixas quando ele nos lembra que não devemos permanecer passivos, esperando a morte chegar, como se estivéssemos sentados no trono com a boca aberta, cheia de dentes.

Nino Marcati

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