Gazeta Itapirense

Nossa História: Expresso Cristália, o orgulho dos itapirenses

Com toda certeza, nas décadas de 60, 70 e 80, muita gente pronunciou essa frase um sem número de vezes. Em minha infância foram muitas as vezes que ouvi meu pai dizer: ‘pronto, agora já estamos em casa’.

A frase sempre era dita quando, ao chegar à rodoviária de São Paulo, no centro velho da Capital, na região da Luz, com as mãos cheias de pacotes, meu velho pai via o ônibus verde do Expresso Cristália. A frase era dita como uma espécie de alívio e também pelo sentimento que cada itapirense tinha pela empresa de ônibus comandada pelo saudoso José Benedito Coloço.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

De fato, estar acomodado em uma poltrona de um ônibus do Expresso Cristália era como se estivéssemos em nossa casa. Era como se deixássemos para trás toda a agitação da gigantesca São Paulo, com suas ruas abarrotadas de gente, carros, ônibus e bondes.

Vivi tudo isso em minha infância toda vez que acompanhava meu pai até a Capital para as compras que ele fazia para a Fábrica de Móveis Santa Terezinha, da qual era um dos sócios. A cada dois meses ele rumava para São Paulo e sempre levava alguém a tiracolo, ora minha mãe, ora minha irmã mais velha, ora eu.

Depois de andar por horas, entrar e sair de lojas de ferramentas e carregar os braços com pacotes recheados com pregos, parafusos, dobradiças e outros apetrechos utilizados na fabricação de móveis, nada melhor que chegar à rodoviária e ver aquele ônibus pintado de verde nos esperando. Era como se estivéssemos entrando em casa.

 

 

 

 

 

 

 

 

Minha família sempre teve uma relação estreita com o Cristália, assim como a grande maioria das famílias itapirenses. E essa relação se tornou mais estreita ainda quando meu tio Anízio Sabadini, marido de minha tia Marly, passou a integrar o quadro de motoristas da empresa.

Jovem ainda e recém-casado, meu tio ingressou na empresa e tinha orgulho de ser um dos motoristas do Cristália. Podíamos ver isso no brilho de seus olhos e no capricho que tinha com o veículo e seus uniformes, além do tratamento que dava aos passageiros.

Como meu pai gostava muito de sair aos domingos para almoçar fora, toda vez que cruzávamos com um ônibus do Expresso Cristália prestávamos atenção para ver se era ele que conduzia o mesmo. E até brincávamos com sua estatura, dizendo que era só notar se o ônibus estava sem motorista.

A identificação também podia ser feita pela numeração do ônibus, pois cada veículo tinha seu motorista fixo. Uma norma adotada pela empresa para a identificação dos mesmos com os veículos.

Desde sua criação, o Expresso Cristália sempre foi a ‘menina dos olhos’ dos itapirenses. Além disso, pela longevidade que os motoristas alcançavam dentro da empresa, acabavam virando alvo do mesmo carinho.

Todos eram muito conhecidos e tratados com carinho e respeito pelos usuários. Assim como agenciadores e cobradores.

O tempo passou, o Expresso Cristália passou a ser parte integrante do Grupo Santa Cruz e continuou sua caminhada de crescimento. Os tempos são outros, mas as lembranças daquele tempo continuam bem guardadas. Assim como aquela frase que costumei ouvir ao chegar á rodoviária de São Paulo para voltar para casa. ‘Pronto, agora já estamos em casa’, como diria meu pai. Agora é só recostar a cabeça na poltrona e recordar os bons e velhos tempos do Expresso Cristália e seus ônibus verdes com poltronas vermelhas, chamados com carinho de melancia, tal a semelhança nas cores com a saborosa fruta.

*Coluna publicada pelo jornalista Humberto Butti (in memorian) na versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense

 

 

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