Nossa História: As vozes que saíam do rádio
Sou de um tempo em que o rádio era o melhor companheiro que se tinha. Televisão era para poucos, computador, então, só se via em filme de ficção e internet nem se cogitava.
Um tempo mais romântico, em que as pessoas tinham seus locutores e cantores favoritos e os programas prediletos. As músicas eram realmente melodias e tinham um significado real em suas letras.
Lembro bem que minha mãe tinha predileção pelos programas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Adorava o programa comandado pelo César de Alencar, um campeão de audiência e que levava em seu programa os mais famosos cantores daquela época.
Minha mãe tinha seus cantores favoritos como as irmãs Linda e Dircinha Batista, Francisco Alves, que já havia falecido, mas que continuava fazendo sucesso, Marlene, Emilinha Borba e outras famosos daquela época eram vozes constantes nas tardes de minha infância.
Eu gostava de ficar ali, ao lado dela, sentado em sua cama, ouvindo aquelas pessoas que eu não conhecia, mas que preenchiam minha imaginação com suas canções.
Para aquele menino magricela de orelhas grandes ouvir rádio era deixar a mente viajar para lugares distantes e bonitos. Eu ficava ali horas e horas, vendo minha mãe fazer crochê ou tricô e ouvindo aquele som carregado de estática que saía do rádio.
Aquele era um tempo diferente. As pessoas sabiam as letras das músicas e gostavam de cantá-las.
Quando chegava o Carnaval o rádio trazia as novas marchinhas, as músicas que satirizavam personagens famosos ou até mesmo políticos, apesar da censura forte que existia. Até as crianças cantavam as músicas carnavalescas apesar de não saberem o verdadeiro significado daquilo que estavam cantarolando.
Na Rádio Clube não era diferente. Grandes vozes passaram por seus microfones e eram igualmente ouvidas em casa. Dácio Clemente, a maior delas, era campeão de audiência em minha casa, como em toda a cidade e região.
Como em casa não tinha telefone, era na do vizinho, o maestro Américo Passarella, que eu ia tentar ligar no seu programa para pedir uma música. Lembro que primeiro se falava com a telefonista para depois ter a ligação completada.
Era difícil conseguir, mas às vezes dava certo e eu voltava pra casa feliz por ter falado na rádio, pedido uma música e oferecido para minha mãe, minha irmã e para todos que estavam ouvindo.
Hoje não se vê e nem se ouve mais nada disso. Tudo ficou no passado, um passado que não volta mais, mas que está bem guardado em minha memória.
Aquilo tudo, mal sabia eu, seria a base para minha vida profissional. Foi ali que comecei a gostar de rádio, a gostar de ouvir seus comunicadores e as músicas.
Por isso que acredito que tudo na vida tem seu verdadeiro significado.
Às vezes penso em ligar o rádio para buscar tudo aquilo de volta, mas acabo lembrando que não basta apenas ligar o aparelho, pois aquele tempo já passou e nada será igual. Aquelas vozes já se calaram, os cantores famosos já não existem mais e as músicas daquela época ficaram esquecidas no tempo ou guardadas na memória de quem viveu aquele tempo.
* Coluna publicada originalmente na versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense de 04 de maio de 2013 pelo jornalista Humberto Butti