Nossa História: A Usina Nossa Senhora Aparecida
Sou de um tempo em que enxoval de bebê era feito de tricô, todo na base da agulha mesmo, no talento de quem sabia fazer.
Um tempo bem diferente do que vivemos hoje, mais romântico, mais simples e muito melhor de se viver.
Lembro bem que minha mãe era uma dessas pessoas agraciadas pelo dom divino de saber tricotar como ninguém. E o que é melhor, ter o asseio necessário para que a peça confeccionada chegasse às mãos da freguesa da melhor forma possível, principalmente se fosse feita com lã branca.
Minha mãe tinha esse capricho e essa preocupação, por isso suas peças de tricô tinham sempre endereço certo. E o dinheiro recebido era sempre para ajudar meu pai nas despesas da casa.
Lembro que minha mãe contava, anos depois, que tinha orgulho de ter freguesas importantes e que, entre elas, uma senhora conceituada na sociedade e estimada por sua benemerência.
Ela se orgulhava em dizer que entre suas freguesas estava simplesmente a dona Carmem Ruette de Oliveira e que seus três filhos, Hermelindo, Carminha e Virgolininho, vestiram enxovais de tricô feitos por ela.
E um de seus maiores orgulhos era dizer que a freguesa, tão importante perante a sociedade itapirense, gostava de seus trabalhos principalmente porque as peças, tricotadas em lã branca, chegavam às suas mãos imaculadas, no mais puro dos brancos. “Lavo as mãos com sabão de coco a cada meia hora”, contava minha mãe.
Eu, ainda um menino magricela de orelhas grandes, ouvia tudo aquilo com orgulho de minha adorada mãe, sem saber que um dia, por uma dessas coincidências da vida, iria mais tarde trabalhar justamente na Usina Nossa Senhora Aparecida. Iria conhecer de perto as pessoas que minha mãe citava em suas histórias e constatar que eram exatamente do jeito que ela descrevia.
A vida nos ensina muitas coisas, ensina a saber dar valor às pessoas que realmente merecem. Eu aprendi isso com meus pais e até hoje, depois de dobrar a casa dos cinquenta e ver meus cabelos pintados de cinza pelo tempo, ainda recordo de tudo aquilo que minha mãe contava nos meus tempos de criança e cada vez que isso me vem à memória sinto mais orgulho ainda de ter sido seu filho.
Coluna publicada originalmente na versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense, em 07 de setembro de 2013, pelo jornalista Humberto Butti.