Médico tarado que atuou no CAIS é condenado após abusos sexuais contra pacientes
A juíza Hélia Regina Pichotano aceitou a denúncia do promotor de Justiça Rodrigo Lopes e condenou um médico cafajeste que trabalhou no CAIS (Centro de Atendimento Integral à Saúde) de Itapira. Ele é acusado de ter abusado sexualmente de pelo menos duas pacientes em Itapira.
Dr. Rodrigo Lopes denunciou o tarado no artigo 215, por duas vezes, na forma do artigo 69, ambos do Código Penal.
Segundo a denúncia, em maio de 2017 o acusado praticou ato libidinoso contra uma idosa, fato que se repetiu em setembro de 2018, contra outra mulher.
Segundo apurado por nossa reportagem, o médico-tarado atuava na Rede Pública de Saúde de Itapira e, aproveitando-se da sua condição profissional e da relação médico-paciente, no ambiente de consulta médica, ludibriou as vítimas, suas pacientes, durante exame clínico, praticando atos libidinosos.
Durante uma consulta médica de atendimento a uma das vítimas, enquanto a paciente estava deitada de bruços na maca, com os braços esticados para trás, ele se aproximou e começou a esfregar o pênis no corpo da vítima, tendo uma ereção. Em seguida, o acusado pegou a mão da vítima e colocou dentro de sua calça, dizendo: “Estou quase gozando”. A vítima demonstrou nervosismo, momento em que o acusado encerrou a consulta.
O modos operandi do tarado foi o mesmo com a segunda vítima e, enquanto a paciente se preparava para deitar na maca, aproximou-se dela pelas costas e encostou o seu corpo, esfregando a sua genitália nas nádegas da paciente. Em seguida, depois que a paciente se deitou na maca, o acusado continuou com o corpo muito próximo dela, enquanto a olhava com cara de tarado e encerrou a consulta.
A denúncia
Após os fatos, as vítimas procuraram as autoridades de saúde de Itapira e formalizaram reclamação, dando origem a procedimento administrativo disciplinar, além de terem comparecido à Promotoria de Justiça, onde foram ouvidas, oportunidade em que se oficiou à Delegacia de Polícia para instauração do inquérito policial. A denúncia foi recebida aos 4 de março de 2020.
Como se passaram seis meses até a denúncia de uma das vítimas, foi extinta a punibilidade do acusado neste caso.
Em audiências foram ouvidas a vítima, quatro testemunhas arroladas na denúncia, uma testemunha comum, uma testemunha de defesa e, ao final, interrogado o acusado, ocasião em que a instrução processual foi encerrada e as partes requereram prazo para apresentação de alegações finais escritas.
O representante do Ministério Público requereu a procedência da denúncia e a condenação do acusado, por entender suficientemente demonstradas a autoria e a materialidade delitivas. A Defesa, por sua vez, postulou a absolvição do acusado por insuficiência probatória.
O relato de uma das vítimas mostra em detalhes como ele atuou: ela passou em consulta com o réu. Ao entrar na sala, achou estranho, porque a mesa do médico estava encostada na parede e ele estava sentado com as pernas abertas, despojado e vestindo calça de moletom. Achou estranha a postura do médico. Então, ele perguntou o que estava sentindo e, em seguida, conduziu-a com as mãos até a maca, pedindo para se deitar de bruços. Também achou estranho que um cardiologista a examinasse nas costas. Ele ficou com o braço apoiado perto das suas nádegas, como se estivesse ouvindo o seu peito. Mas ele não estava, pois ficou olhando o seu corpo. Em seguida, ele começou a passar o pênis nas suas mãos e roçar no seu corpo. Achou muito estranho. Saiu da maca em estado de choque e sentou-se na frente do réu. Ele continuou despojado, com as pernas abertas, sem conduta médica e começou a falar que precisaria de um exame, fazer cateterismo, porque estava com problema de saúde. Disse que o olhar dele a incomodava. Em determinado momento, informou ao médico que era casada, para deixar bem claro. A consulta durou cerca de vinte minutos. Quando percebeu que o réu estava esfregando o pênis nas suas mãos, tentou tirar, mas não tinha posição, pois estava deitada de bruços, com as mãos para trás. Saiu de lá horrorizada. Ao chegar em casa, consternada, contou para o seu marido e suas filhas. Seu marido se revoltou muito. Tinha um retorno com o réu e pensou que, talvez, pudesse ter se enganado quanto ao comportamento dele. Como estava preocupada com a sua saúde, resolveu ir ao retorno. Entretanto, quando chegou ao consultório e o viu, não conseguiu entrar na consulta e começou a chorar na sala de espera. Chamou uma funcionária do CAIS e disse que não mais queria passar com o réu, relatando a ela o que havia ocorrido. Ao final, servidora pública lhe disse: “você também?”.
Crimes conhecidos
A monstruosidade do ataque do médico já era conhecida, mas funcionários do CAIS tinha medo de denunciar.
A funcionária do CAIS confirmou, durante audiência, que sabia o que acontecia nas consultas e não sabia o que fazer, pois não tinha a quem pedir ajuda. Ela disse que ele abusava de pessoas mais velhas, inclusive de mulheres idosas. Disse que tomou conhecimento de que uma das vítimas já tinha feito uma reclamação formal junto às autoridades de Saúde do município, e nada foi feito.
Após a conversa com a funcionária do CAIS, a vítima decidiu relatar os fatos na Promotoria de Justiça e foi ouvida pelo promotor Rodrigo Lopes.
A mulher descobriu depois que sua saúde estava muito bem e que o médico havia inventado que precisaria fazer exames e passar por cirurgia de cateterismo. Ela acredita que essa era uma forma de o réu amarrar as vítimas emocionalmente, já que elas precisariam voltar ao consultório.
A mulher depois tomou conhecimento de outras pacientes que sofreram o mesmo abuso. Relatou ter ouvido de uma enfermeira que o réu era conhecido como “Dr. Mãozinha”, porque ele apalpava, pegava e trancava as mulheres dentro do consultório. Disse que também conheceu a outra senhora que foi vítima do réu um ano antes. Acrescentou que o olhar do médico era de lascívia, como se a despisse e a “comesse” com os olhos. Contou que se revoltou muito porque imaginava quantas mulheres poderiam ter escapado desse monstro se tivessem sido tomadas as devidas providências. Sabe o nome de várias vítimas que não tiveram coragem de depor.
Outra vítima
Uma outra vítima disse que passou várias vezes em consulta com o réu. Afirmou que as consultas eram normais, mas, da última vez, ele pediu para se deitar de bruços na maca com as mãos para trás.
Em seguida, ele se aproximou e encostou-lhe o pênis duro. Depois, ele lhe pediu para sentar-se na maca, pegou a sua mão e colocou por dentro da calça dele. Ao perceber que ficou agitada, o médico puxou a mão e parou.
Depois, ele assinou o papel da liberação da cirurgia que iria fazer. Quando saiu da sala do médico, foi direto conversar com uma enfermeira e relatou o que havia ocorrido.
Então, ela lhe disse que outras pessoas já tinham sido vítimas e lhe passou o telefone de outra vítima com a qual foi denunciá-lo na Promotoria de Justiça e na Delegacia de Polícia.
Declarou ter sessenta e sete anos. Esclareceu que o monstro colocou a sua mão dentro da calça dele, na parte da genitália e confirmou que ele ainda lhe disse: “Estou quase gozando”. Tomou conhecimento de que outras mulheres foram vítimas. Depois desses fatos, ficou com medo de que ele pudesse fazer-lhe algum mal. Também ficou com medo de passar com outros médicos.
Em depoimento durante o julgamento, a enfermeira relatou há mais de sete anos atua no CAIS. Informou que o réu atendeu no CAIS como durante muitos anos. Nunca o acompanhou nas consultas às pacientes. Muitas vezes foi procurada por diversas pacientes que relatavam não se sentir confortáveis no momento da consulta, pois não gostavam da maneira como ele as atendia. Algumas choravam e pediam para não ser mais atendidas por ele.
Ela contou ainda que as mulheres se sentiam muito constrangidas durante as consultas. Por diversas vezes, comunicou verbalmente à sua chefe na época, sobre os fatos. As pacientes não queriam se identificar. Também encaminhava as pacientes para a ouvidoria para que formalizassem a queixa.
Mas as pacientes tinham medo de falar para os maridos, por receio da violência deles. Elas preferiam apenas trocar de médico e não fazer mais nada. Ela contou ainda que os relatos das vítimas eram muito parecidos. “Elas relatavam que ele as deixava de bruços para examinar e encostava o corpo nas mãos delas”.
Uma outra funcionária do CAIS seguiu a mesma linha de relato, confirmando que as pacientes lhe contavam sobre o modo como o réu as atendia e destacou também que as consultas com as pacientes do sexo feminino eram longas.
A defesa
Em seu interrogatório o médico disse que examinou a vítima de forma ética e tranquila. Não esfregou sua genitália nela e nunca teve a intenção de que ela se sentisse de alguma forma perturbada. Negou que dificultava o acesso dos profissionais na sala. Disse que colocava a sua mesa encostada na parede, para que a paciente se sentasse à sua esquerda, de forma a facilitar a aferição da pressão. A maca ficava atrás de si, na parede contra a lateral da mesa. O acesso era total e irrestrito à sala, a qual nunca trancou. Nunca restringiu a entrada de enfermeira ou acompanhante na sala. Informou que não era obrigatória a presença de outra pessoa enquanto estava com paciente.
Ao final da audiência, por todos os relatos e pela riqueza dos detalhes, ficou claro para as autoridades que o médico havia molestado as mulheres que fizeram as denúncias.
A versão apresentada colide com as consistentes palavras da vítima, a qual detalhou o abuso sexual sofrido nas duas oportunidades em que foi ouvida. Em juízo, bastante abalada ao reviver os abusos, a mulher reafirmou ter sido enganada pelo médico.
Ao final da audiência, a juíza Hélia Pichotano aceitou a denúncia oferecida pelo promotor de Justiça Rodrigo Lopes e aplicou a pena de 02 (dois) anos, 08 (oito) meses e 20 (vinte) dias de reclusão. O regime inicial de cumprimento da pena será o semiaberto.
Opinião do jornal
O que espera com essa matéria publicada por A GAZETA, é antes de mais nada, que mais mulheres que tenham sido vítimas deste ou de outro monstro se manifeste. Procure as autoridades competentes e denunciem.
A coragem destas mulheres que foram atacadas por um ‘médico’ sem qualidade colocou fim em uma história de horro para muitas outras e evitou que mais vítimas fossem molestadas.
Depois das denúncias, o ‘médico’ pediu demissão e deixou Itapira.
É uma pena que a Lei brasileira hoje não permite que o jornal escrache o nome e foto dele. Com certeza mais mulheres viriam a público denunciar e novas vítimas escapariam de suas garras sexuais.