Gazeta Itapirense

Editorial – No partido da Covid, ninguém se entende

Não é novidade que os partidos políticos brasileiros estão mais preocupados com os interesses inconfessáveis dos seus membros do que com o bem-estar da população. Por isso, seguem a cartilha do cada um por si e Deus por todos. Magalhães Pinto dizia: “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”. Mas quando o assunto é Covid, a política se parece com uma nuvem lenticular, com formato fixo e imóvel.

Desde março do ano passado, quando o assunto coronavírus tomou conta do noticiário, dois grupos distintos da população se formaram: um dando ao vírus a devida importância, outro achando que não havia motivos para tanto pânico. Rapidamente, dois nomes apareceram para liderar os dois grupos. O governador de São Paulo e o presidente da república. A intensão deles era conquistar politicamente um lado e provar que o outro estava errado. A ideia não era destruir o inimigo coronavírus, mas o inimigo político. As besteiras que os dois fizeram estão cantadas em verso e prosa, as consequências, infelizmente, continuam.

O Brasil em nenhum momento conseguiu aplicar uma medida eficaz de contenção da circulação do vírus. As variantes foram ganhando espaço e se tornando mais agressivas. Resultado, até as 20h deste sábado (27) atingimos 310.694 óbitos. O número é frio, mas hoje é difícil encontrar um brasileiro que não tenha um parente, um amigo ou um conhecido entre as vítimas fatais da Covid. Mais de 12 milhões de pessoas, uma cidade de São Paulo inteira, já tiveram ou tem o novo coronavírus. Felizmente, 97% se salvaram, mas ainda não se sabe quantos recuperados estão convivendo ou por quanto tempo conviverão com as sequelas. Cerca de 80 mil casos foram confirmados de sexta para sábado. Um número assustador que não para de crescer. Os hospitais estão colapsando.

Enquanto isso, os partidários da Covid continuam defendendo suas políticas tacanhas, como se o número de mortes fizesse parte da vida. Afinal, todos nós morremos um dia, que diferença faz se for daqui uns anos ou hoje?  Ou como se o número de infectados fizesse parte do sistema de imunização em massa, tese sem qualquer comprovação. Ou como se bastasse condenar essas ações, para resolver todos os problemas.

A Covid não tem partido. É o nosso inimigo comum. Para combate-la é preciso informação correta, união, ouvidos à ciência e medidas conjuntas para todo território nacional, variando, obviamente, em função da situação de cada lugar. Apenas medidas eficazes podem contê-la e provocar a retomada da economia. Primeiro a vida, depois a economia. A ordem dos fatores altera as consequências.

Auguste de Saint-Hilaire em visita ao Brasil, em 1800, disse uma frase que ficou famosa e foi usada em inúmeras campanhas eleitorais “se o Brasil não acabar com a saúva, a saúva acaba com o Brasil! ” Estamos em 2021, o Brasil não acabou com a saúva, e também não se acabou. Mas podemos dizer, agora, parafraseando o botânico francês: “se nada for feito para acabar com o coronavírus, a Covid poderá acabar com a vida de mais de meio milhão de brasileiros e, ainda por cima, deixar sequelas a muitos milhões”.

Acabar com a Covid não deve ser promessa como acabar com a corrupção ou com a saúva, cânceres que bem sabemos não são extirpados com discursos, a Covid precisa ser debelada, sem discurso, com ações efetivas, eficazes e, principalmente, com união!

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