Gazeta Itapirense

Editorial: Cai movimento nos supermercados; culpa da inflação

Os mais atentos estão percebendo que o movimento nos supermercados caiu. A sensação começa a ser sentida nos estacionamentos, antes sempre lotados, hoje há vagas em quase todos os dias e horários. A inflação dos alimentos subiu, desde o início da pandemia, cerca de 40%. Os mais pobres reduziram ou deixaram de comprar; a classe média voltou a fazer pesquisa com mais intensidade e encher mais o carrinho, tudo para tentar se proteger da alta dos preços; os mais ricos ainda não foram afetados.

A demora e a indefinição no novo Bolsa Família, o Auxilio Brasil, e com o pagamento da última parcela do Auxilio Emergencial, essenciais para milhões de brasileiros, mais do que impactar negativamente o movimento dos supermercados, faz crescer a incerteza da sobrevivência, a fome se agrava, retrato triste de um país pobre e desgovernado.

A combinação da inflação com o desemprego se mostra na crueldade das imagens de pessoas buscando carcaças (que também sofreram aumento de preços absurdos); de pessoas revirando latas e caminhões de lixo em busca de comida para saciar a fome. Sem dinheiro para comprar o gás, cozinham em fogões a lenha improvisados.

Segundo o Datafolha, 57% das famílias brasileiras vivem com menos de R$ 2.200,00 por mês, esse grupo é altamente afetado com a inflação alta, mas nem tanto como 27,4 milhões de brasileiros (FVG Social) que passam o mês com menos de R$ 261,00, a maior taxa de miseráveis em uma década.

Ironicamente, segundo o FGV Social/Pnadc, de 2014 até agora, o desemprego entre os 10% mais ricos cresceu menos de 1%, entre os mais pobres a desocupação passou de 50%. Com a pandemia, as empresas que adotaram o home office demitiram os empregados menos qualificados como copeiras, faxineiros, porteiros etc. Com a retomada da economia, muitas empresas decidiram continuar em home office, sem projeção de retorno ao trabalho dessas categorias.

A implantação do Auxilio Brasil para socorrer os mais vulneráveis e vítimas da pandemia é urgente e necessária. Mas é preciso fazê-la com responsabilidade. Não é hora de manter as benesses aos parlamentares em troca de benefícios políticos e nem de continuar beneficiando empresas com desonerações descabidas, caso contrário, a ajuda aos mais pobres poderá burlar a âncora fiscal, manter o real desvalorizado, fomentar a inflação, refletindo nos juros futuros, comprometendo investimentos externos e o crescimento da economia, devolvendo o país aos famigerados anos oitenta. Assim, o que for dado aos pobres hoje, irresponsavelmente, amanhã lhes serão retirados e levará parte da classe média no mesmo comboio.

Todo juízo é pouco!

 

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