Gazeta Itapirense

Crônica: Tilápias cachaceiras

De um tempo para cá, peguei gosto em pescar.

Pelo que me lembro, em minha infância, acompanhei meu pai duas ou três vezes até um dos rios de minha cidade. Saíamos bem cedinho. Ele com sua Caloi Barra Forte vermelha, com as varas de bambu amarradas no quadro e o embornal com as tralhas na garupa, e eu com minha BMX aro 20 de pneus azuis.

Atravessávamos a cidade e chegávamos em uma estrada de terra, passávamos por vários sítios e chácaras até chegarmos ao rio. Então, acorrentávamos uma bicicleta à outra e as amoitávamos no meio de alguma touceira, deixando-as bem escondidas. Logo depois, adentrávamos à mata percorrendo a extensão do rio, procurando os melhores poços para jogarmos as iscas.

Na verdade, pescar mesmo, ficava por conta de meu pai, e ele era um bom pescador. Já eu, preferia ficar explorando o local, procurando goiabeira selvagem e apreciando os passarinhos coloridos em cima das árvores.

Nunca mais me interessei em pescar, até se passar mais de trinta anos.

Recentemente, fui convidado por um colega da empresa onde comecei a trabalhar para conhecer um pesqueiro na saída da cidade.

Confesso que só aceitei o convite porque esse meu amigo disse que o pesqueiro era de propriedade de um parente dele, e tinha toda uma estrutura, com bar, lanchonete, e às vezes, até aconteciam apresentações de música ao vivo. E como ele adorava pescar, decidi também participar, relembrando os tempos de infância.

Porém, fiquei intrigado com a técnica usada por esse amigo na preparação de suas iscas.

Como iríamos pescar Tilápias, usaríamos ração, e ele mergulhava a ração numa vasilha com cachaça, para amolece-la e ficar mais fácil de prende-la no anzol.

Achei estranho e bizarro. Por que não usar água? Por que não usar outro líquido qualquer? Tinha que ser cachaça?

E não é que os peixes adoravam! Era uma fisgada atrás da outra. Nunca vi tantos peixes desesperados para morder a isca.

Claro que também aproveitávamos, e entre um peixe e outro, tomávamos um gole da cachaça. No final da tarde, estávamos tão bêbados quanto os peixes.

Por sorte, o proprietário do pesqueiro nos levava para casa.

Agora, peguei gosto em pescar.

Todo final de semana, na companhia do meu amigo ou sozinho, estou no pesqueiro, na beira do açude, amolecendo as iscas, fisgando as Tilápias e tomando a cachaça.

Por Rodrigo Alves de Carvalho

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2022 relançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores, disponível na Amazon, Americanas.com, Estante Virtual e Submarino.

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