Gazeta Itapirense

Crônica: O vegetariano, por Rodrigo Alves de Carvalho

Com o decorrer do namoro e de tanto Jacira insistir que carne não fazia bem para saúde e que era desumano demais sacrificar animais indefesos, Oswaldo decidiu que nunca mais comeria carne.

Tomou tanto gosto por ser vegetariano que logo era o mais radical da turma de amigos naturebas, que se reuniam nos finais de semana para jogar cartas e petiscar sanduíches de legumes e saladas diversas.

De tanto condenar a matança de animais para que os malditos carnívoros pudessem se saciar da carne dos inocentes bichinhos, Oswaldo chegou a fazer protestos solitários em frente ao abatedouro municipal da cidade.

Entre o namoro, noivado e casamento, já faziam seis anos que Oswaldo e Jacira estavam juntos naquela vida feliz, mas sem nenhum naco de carne.

Augusto era o irmão mais velho de Jacira que morava na capital e apenas uma vez pode visitar a irmã após seu casamento, agora, estava de volta à cidade natal onde arrumara um emprego. Para comemorar sua volta, convida Oswaldo para uma reunião entre familiares no domingo.

Ao chegar na casa de Augusto, rolava um churrasco e o vegetariano caiu em agonia.

— Pena você ser vegetariano Oswaldo. Olha só essa picanha.

Oswaldo olhava aquela picanha suculenta, com aquela capa de gordura douradinha.

Augusto come um pedaço da picanha e Oswaldo lambe os beiços. Depois engole o cuspe.

— Isso aí é um bicho morto. Não sei como tem coragem de comer.

— Pode estar morto, mortinho da Silva, mas é de-li-ci-o-so. Olha essa linguicinha Oswaldo, que espetacular.

Oswaldo quase tem uma recaída, mas logo se recompõe.

— Deve ter sido feita com restos de animais, porco, vaca, cavalo e quem sabe até rato. Isso aí é um veneno para o organismo.

— Se é feito com restos de animais, não sei, só sei que está uma maravilha…

Enquanto observa o cunhado cortando, servindo e comendo aquelas famigeradas deliciosas carnes, Oswaldo se contenta mastigando alguns pedaços de brócolis com maionese.

No outro dia, Jacira quis saber o que Oswaldo achara do churrasco.

— Seu irmão é um viciado em carnes, mas a gente tem que ter bom senso e ser tolerante com todo mundo.

— Ótimo! Porque ele nos convidou para outro churrasco no próximo sábado. É aniversário dele.

No outro dia, Oswaldo pediu o divórcio.

RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários.  Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.

Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localiza no sul de Minas Gerais.

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