Crônica: O Tik Tok, a Air Fryer e o tempo perdido
Nunca havia entendido o fascínio das pessoas, principalmente dos mais jovens com as plataformas e aplicativos de celulares, onde ficam entretidos com vídeos curtos por horas e horas.
Sempre me deparava com esses jovens ao passar em frente aos colégios e os observava paralisados, num mundo distante, naquele pequeno retângulo posicionado verticalmente em suas mãos.
Também me intrigava que até pessoas mais velhas, ficavam com celulares nas mãos em filas de banco, pontos de ônibus, em consultórios médicos ou qualquer outro local de espera, onde me encontrava com aqueles seres absortos em seus curtos vídeos sobre qualquer coisa.
Gatinhos bagunceiros, comidas indianas nojentas, acidentes automobilísticos, fake news sobre acontecimentos políticos, gangues de cachorros caramelos, dancinhas ridículas, mulheres com roupas provocantes, animações, desafios diversos etc.
Mas, por quê?
Eu tinha celular, tinha até rede social, mas achava aquilo desinteressante. Só me chamava a atenção quando alguém postava algum acontecimento na cidade, ou o falecimento de um morador local, mas ficar bisbilhotando a vida das pessoas, o que vestiam, para onde iam e o que comiam, nunca me interessavam.
Agora, ficar assistindo vídeos curtos, sem nenhum nexo e muitas vezes sem argumento algum, não me passava pela cabeça.
Até o dia em que comprei uma Air Fryer.
Naquele momento, entendi o apego das pessoas aos Tik Toks da vida.
No início, ao preparar os sanduíches para o pessoal lá de casa, ficava um tempão esperando assar cada lado dos hambúrgueres, depois esperava outro tempo para esquentar o pão com o queijo e montar os sanduíches. Aquilo me entediava.
Entretanto, agora, quando deixo a fritadeira elétrica fazer o seu trabalho e me conecto ao Tik Tok ou aos vídeos do Instagram, os minutos passam num piscar de olhos, ou melhor, num passar de vídeos. Rapidinho meus sanduíches estão prontos.
Consigo entender então, o motivo dessas pessoas se apegarem tanto aos vídeos curtos e viciantes.
Trata-se do melhor jeito de fazer o tempo passar, sem percebemos. Principalmente, quando estamos preparando sanduíches em nossas fritadeiras elétricas… ou seria, o melhor jeito de se perder tempo na vida?
RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários. Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.
Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localiza no sul de Minas Gerais.