Gazeta Itapirense

Crônica: Na época do Kichute, por Rodrigo Alves de Carvalho

Hoje em dia, existem tantas marcas de calçados que fica difícil decidir qual é o tênis favorito ou o sapato que melhor cai bem aos pés.

São tantas marcas e modelos que, se você usar um pé de cada marca e cor diferente ninguém vai notar ou irão achar que é moda.

Lá na época de antigamente, as coisas eram bem diferentes. Essas marcas que hoje são tão badaladas como All Star, Asics, Nike, Adidas e outras tantas já existiam e até eram famosas, mas para a criançada dos anos oitenta na minha cidade, o calçado da moda, a unanimidade entre a molecada, era o Kichute.

O Kichute era multifuncional, servia para ir na escola, na festa, na igreja e principalmente, para jogar futebol. O que de certa forma agradava em cheio os moleques, já que não gostavam muito de escola, festa e igreja, mas jogar bola era febre naquele tempo.

Nos inesquecíveis treinos nas escolinhas de futebol, por exemplo, assim como outros moleques, nunca usei chuteiras, até por uma questão financeira. O Kichute era bem mais barato que as chuteiras Strike, Umbro, Topper e outras marcas do momento.

Porém, o Kichute era tão bom quanto as chuteiras, já que os habilidosos driblavam e faziam gols com Kichute e um perna-de-pau poderia usar uma chuteira caríssima de marca famosíssima que nada mudaria futebolisticamente seu modo de jogar.

É claro que, um Kichute não durava tanto tempo como uma chuteira, porque, como disse antes, ele era usado tanto nos jogos de futebol, em gramados, ruas de terra batida, ruas calçadas, asfalto e também no dia a dia, em qualquer ocasião. Por isso, logo o Kichute começava a furar debaixo dos dedos e em pouco tempo, dava para ver o dedão de fora.

Outro inconveniente era o cadarço de quase dois metros que tinha que ser amarrado em várias voltas na canela, o que poderia segurar a circulação sanguínea se ficasse muito apertado. Mas, nada disso fazia com os moleques ficassem sem o Kichute nos pés.

Esses dias, fiz uma pesquisa num site de vendas online para saber quanto está custando um Kichute nos dias de hoje e achei absurdo. O par varia entre R$ 150,00 e pode chegar até mais de R$300,00.

Mas, deve ser mais pelo valor histórico, porque dificilmente vemos hoje um menino usando Kichute. Eles preferem aquelas chuteiras multicoloridas e estranhas que jogadores famosos como Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar usam atualmente.

Logo o Kichute vai estar apenas na memória de tanta gente que jogou bola e fez muitos gols, mesmo com o calçado furado e os dedos de fora.

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2022 relançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores, disponível na Amazon, Americanas.com, Estante Virtual e Submarino.

 

 

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