Crônica: As flores de minha mãe, por Rodrigo A. de Carvalho
Cultivar florezinhas em vasinhos é uma mania que conheço muito aqui na cidade onde moro. Principalmente, entre as senhoras de mais idade. Minha mãe e minha tia, por exemplo, possuem dezenas de vasos de vários tamanhos, além de garrafas pet cortadas ao meio, potes de sorvetes e qualquer vasilha onde dê para colocar terra e plantar uma mudinha de flor.
Sempre ouço os nomes das flores, mas sempre acabo confundindo tudo: Violetas, Antúrio, Begônia, Flor da Fortuna, Rabo de Gato, Crisântemos, Capuchinha e muitas outras.
E ai se alguém chegar muito perto e coloca a mão nas flores:
— Toma cuidado pra não matar a flor!
Na verdade, acredito que cultivar essas flores é um tipo de terapia, regar todo dia, tirar os matinhos, controlar as borboletas, joaninhas, pulgões e outras pragas que aparecem de vez em quando para desespero dessas senhoras, que sempre tem uma solução caseira, como borrifar água com detergente, solução de pimenta e alho, vinagre e água e uma infinidade de poções mágicas que prometem eliminar os terríveis insetos comedores de folhas e pétalas.
De todas as flores, a mais bonita é uma orquídea com três pétalas grandes amarelas rajadas em marrom arroxeadas, três menores, também com riscos marrom, e no centro, mais três pétalas pequenas em formato de trevo, totalmente amarelas.
Como sei que as orquídeas podem valer uma boa grana, decidi me inscrever numa exposição dessas flores numa cidade vizinha.
Claro que minha mãe não me deixaria levar a flor. Por isso, peguei escondido mesmo.
Com todo cuidado, atravessei a cidade até a rodoviária levando o vasinho de flor. Peguei um ônibus lotado e tive que viajar trinta quilômetros de pé, segurando o vasinho e tomando cuidado para as outras pessoas não esbarrarem nas flores. Depois, mais cinco quilômetros até o local da exposição.
Finalmente, ao chegar no recinto da exposição, cansado, com dor de cabeça e estressado, pude relaxar por alguns minutos, imaginando a recompensa por todo esse sacrifício, ao ganhar o primeiro lugar e uma boa premiação em dinheiro.
Poucos segundos antes de subir ao palco para apresentar minha orquídea, diante de uma plateia com profundos conhecedores das mais raras espécies e experts dos maiores orquidários do país, meu celular toca. Era minha mãe enfurecida.
— Onde você se meteu? Cadê meu vaso de flor?
— Calma mãe. Estou prestes a apresentar sua orquídea em um concurso e vamos ganhar uma bolada em dinheiro!
— Mas, que orquídea?
— Aquela orquídea amarela rajada de marrom.
— Seu idiota! Sempre te falei que aquela não é uma orquídea… e sim, uma Flor de Íris, que parece orquídea, mas não é!
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2022 relançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores, disponível na Amazon, Americanas.com, Estante Virtual e Submarino.