Coveiro com mais de 3 mil sepultamentos se aposenta após 31 anos na profissão
Depois de sepultar mais de 3.000 pessoas, chegou ao fim no começo deste mês a história profissional de um dos mais conhecidos coveiros da cidade. José Carlos de Oliveira, o China, se aposentou.
Ele recebeu nossa reportagem em sua casa, onde descansa após 31 anos de labuta. É quase a metade de sua vida de 66 anos.
China contou que antes de entrar para área de sepultamentos e serviços em cemitérios, trabalhou na empresa Nogueira Máquinas Agrícolas quando ainda tinha seu prédio principal na rua XV de Novembro.
“Depois comecei lá na Saudade (Cemitério) e acabei sendo transferido para o Cemitério da Paz, onde me aposentei dia 04 de abril”, lembrou China.
Ele contou que ao longo destas três décadas viu de tudo, menos assombração: “a gente vê muita tristeza, mas também muita fé nas pessoas. Esse negócio de assombração eu nunca vi, se existe, eu não vi”, garantiu.
China destacou que fez muitas amizades com a pessoas que vão até o cemitério para visitar o túmulo de um ente ou amigo querido: “a gente acaba ficando amigo, pois eles perguntam coisas do cemitério, do túmulo da família, e a conversa vai né”.

Sobre o futuro da profissão de coveiro ele diz que não deve ter muita gente que quer seguir: “é uma profissão boa, recomendo, mas o povo não gosta, tem cisma, medo”.
China parou na arte de enterrar mas continua indo ao Cemitério da Paz, onde tem outro trabalho, o de limpador de túmulo: “hoje cuido da limpeza de 31 túmulos, vou lá toda semana pra deixar eles bem bonitos”.
O agora ex-coveiro fica encabulado só quando fala dos enterros que teve que fazer de crianças: “são anjos né, é muito triste, da dó das crianças e de seus pais também, que ficam lá do lado chorando, desesperados por saber que não vão mais ver aquele anjinho, pra mim são anjinhos que vão pro céu”, disse, com a voz embargada.
China diz ter muito orgulho e gratidão pela profissão que escolheu: “minha esposa Maria Aparecida da Cunha Oliveira morreu com apenas 31 anos de idade, a gente já tinha seis filhos, o mais novo com um ano só. Fui pai e mãe ao mesmo tempo, pois criei todos com o trabalho de coveiro, devo tudo a isso. Hoje quatro não moram mais aqui, dois sim. Deu tudo certo graças a Deus”.