Coluna Traço Feminino, por Hellen Santos
Traço Feminino
Um espaço acolhedor que trará de forma acessível assuntos necessários como direitos das mulheres, a luta das mulheres negras, a violência contra a mulher e o que fazer nessas situações, dentre outros temas relacionados à mulher.
Seja muito bem-vinda (o) !
A competitividade feminina
Creio que todas vocês já ouviram falar que as mulheres competem muito umas com as outras. De fato isso acontece, mas não por obra do acaso, como alguns querem acreditar. A competitividade feminina está relacionada com a cultura patriarcal, conservadora e incentivada pelos próprios homens.
As mulheres começam a lidar com a competitividade desde cedo. Logo na infância já é possível perceber as ações, seja por imitação ou por incentivo dos adultos ao redor. Por volta dos 9 ou 10 anos de idade, isso se acentua consideravelmente, sendo nesse mesmo período, a escola um local que contribui muito para o aumento dessa relação complicada entre as meninas.
A disputa por ser a mais popular, bonita e interessante na escola, ganha níveis consideráveis e despontam pela busca em ser a melhor. Você já assistiu ao filme “Meninas Malvadas”? -Famoso por retratar essa competitividade desenfreada pelas meninas no ambiente escolar e que impacta na vida de todos ao redor. Vou deixar o link para vocês. As comparações por ser a mais bonita, a que valida as histórias, as pessoas e os sentimentos de todos passa pela disputa de espaços.
Por isso, sou fortemente contra concursos de beleza, sejam de qualquer natureza, por não acreditar que eles contribuam em algo relevante para as meninas/mulheres que não seja a competição. Todas as mulheres são belas, mas cada uma tem uma beleza singular. Tornar uma única beleza digna de prêmio expõe e exclui aos outros, ao padrão imposto culturalmente, que ainda é o europeu (branco, de olhos azuis, cabelos longos e lisos, corpos magros e sem curvas), mas as mulheres do Brasil em sua maioria não são assim. Como democratizar isso?
Esse padrão de beleza não demonstra compromisso com as mulheres, mas sim, a exposição de seus corpos, desconsiderando quem elas realmente são, pelo como elas estão naquele momento, além de dificultar a colaboração entre as mulheres que, para atenderem os requisitos, escondem procedimentos e ações que por muitas vezes beiram o risco às suas vidas.
A beleza é de todas, democratizar cada beleza e não fazer disso um padrão, poderia ser um caminho mais curto, porém sabemos que essa via não tem forças, por isso, o que tem se tentado evidenciar são mulheres que atuam para promover a união, a colaboração entre as mulheres que incentivam discussões sobre desempenho e desenvolvimento profissional, celebrando conquistas coletivas das mulheres e que promovam o empoderamento feminino.
E as mulheres negras, onde elas se encaixam nesses padrões? Fica evidente que desde menina, a criança negra irá ficar excluída de todas as competições de beleza que vivenciar. Há muito pouco espaço para a beleza negra, que sempre enfrentou barreiras para ser vista como bela, mesmo recentemente existindo a ideia de que a participação de mulheres negras em concursos de beleza possa promover a autoestima e a representatividade delas.
Repensar tais concepções é nosso dever como mulheres,mesmo que gere incômodos, mas são necessários, frente às conquistas das mulheres e seus esforços em não contribuir para o pensamento patriarcal, vislumbrando constantes mudanças, para uma sororidade entre as mulheres que possa transcender a competitividade entre nós!
“Por mais que os concursos de beleza negra apareçam sob capa de valorização da beleza negra, não reconhecemos que precisamos de um concurso especial para nós, para que sejamos reconhecidas como bonitas. Nosso reconhecimento não pode acontecer apenas num evento de “concessão de espaço”, precisa passar pela dignidade de usarmos nosso cabelo crespo e não sermos insultadas na rua por causa disso, ou não termos que alisá-los por conta de um emprego no mercado de trabalho; passa por não sermos constrangidas a cortar nosso rosto para afinarmos nosso nariz em cirurgias plásticas etc. Por isso não, os concursos de beleza negra não cumprem o seu papel. E isso não é o mesmo de falar da importância que reconhecemos das negras em espaços como a mídia, por exemplo, representatividade é importante sim! Mas o conteúdo dos concursos de beleza é diferente e problemático!”
Link do Filme : Meninas Malvadas
https://www.tokyvideo.com/video/meninas-malvadas-2004
Por: Hellen Santos