Gazeta Itapirense

Coluna Traço Feminino, por Hellen Santos

Um espaço acolhedor que trará de forma acessível assuntos necessários como direitos das mulheres, a luta das mulheres negras, a violência contra a mulher e o que fazer nessas situações, dentre outros temas relacionados à mulher.

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É quase impossível sermos amadas, somos NEGRAS”

Acredito que já tenham percebido a minha abordagem semanal. Busco escrever para todas as mulheres, mas demonstrando as dificuldades que nós, mulheres negras, vivemos. Há algumas semanas tenho recebido mensagens de mulheres negras que me pediram para falar sobre a solidão e a dificuldade de ser amada. Confesso que fui pega de surpresa por esses relatos.

As mensagens que recebi me fizeram revisitar lugares que estavam adormecidos em mim, mas que foram acordados/provocados por vocês. Recentemente em um vídeo, o qual vou deixar o link para que vocês assistam, a atriz e apresentadora, Taís Araújo, falou sobre essa solidão e o sentimento de não “poder” ser amada por ser uma mulher negra.

A solidão das mulheres negras é um processo em que não nos sentimos vista como ser humano digno de afeto e respeito. Nós, mulheres negras nos  sentimos, ao longo da nossa vida afetiva, sendo tratadas como sujeitos de menor valor e também sentimos que, mesmo dentro de relacionamentos, não nos vemos sendo tratadas com valor, ainda que nossos parceiros sejam homens negros.

Essa é uma discussão derivada de um processo social, racial e da própria construção afetiva. Quero esclarecer que esse amor do qual me refiro, vai para  além do romântico, mas afeto, o que também é algo que mulheres negras não estão acostumadas a receber, e nem demonstrar. É indiscutível o fato de que muitas de nós vivenciamos o amor tardiamente.

Para nós, mulheres negras, o processo de construção da própria auto-estima é doloroso. Lidamos com muitos questionamentos internos e externos sobre a nossa aparência, imposições de como devemos nos vestir, falar e expressar os nossos sentimentos, além é claro, da eterna conversa sobre os nossos cabelos, em que todos (pessoas não convidadas ou não qualificadas), querem nos dizer como devemos usá-los ou não.

Mulheres negras são vistas como aquelas que não podem ultrapassar a fronteira racista, machista e classista, elas “precisam” esperar serem escolhidas, e essa espera pode nunca ter fim.

Quando pensamos na descolonização a qual estamos lidando, o que mais ouvimos falar é sobre a solidão da mulher negra, do quanto não vivenciamos o amor, que o afeto não é para nós. A afetividade das mulheres negras é sempre pautada pela autodestruição, em que o foco é a nossa infelicidade de não sermos escolhidas e nem amadas. Mas isso precisa acabar!

Nós, mulheres negras merecemos ser amadas, podemos sim escolher, mesmo que isso possa parecer atrevimento, que seja o nosso! A nossa resistência como mulheres negras que em algum momento se sentiu indesejada ou que esteja vivendo essa situação agora, passa por esse lugar de luta, que através da nossa união e de reconhecer as nossas dores, para encontrarmos  no amor por nós mesmas e por outrem, a nossa merecida felicidade.

“E nem venha me dizer que isso é vitimismo. Não bote a culpa em mim pra encobrir o seu racismo!”    Bia Ferreira

 https://www.instagram.com/reel/DH_z7lWhx1e/?igsh=MTRnNjcxbjN6bDlqag==

Por Hellen Santos

hellenccsed@gmail.com

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