Gazeta Itapirense

Coluna Traço Feminino, por Hellen Santos

Coluna Traço Feminino, por Hellen Santos

Um espaço acolhedor que trará de forma acessível assuntos necessários como direitos das mulheres, a luta das mulheres negras, violência contra a mulher e o que fazer nessas situações, dentre outros temas relacionados à mulher.

Seja muito bem-vinda (o) !

 

Lídia Poët: a primeira advogada da Itália

 A série denominada “As leis de Lídia Poët” retrata as dificuldades de uma mulher que se formou em direito para exercer a sua profissão, pelas barreiras que a desigualdade de gênero exerciam em seu tempo histórico e que rompem os séculos em dificuldades infinitas para as  mulheres.

Olá, queridas (os) leitoras (os)!  Recentemente assisti a uma série que me deixou reflexiva e me marcou bastante sobre o protagonismo da mulher e o seu posicionamento na sociedade.

A série se chama “ As leis de Lídia Poët, e se passa na Itália, mais precisamente na cidade de Turim, no final do século 19. Na série, a personagem principal está constantemente desvendando assassinatos ocorridos em sua cidade, além de lutar pelo direito de poder exercer a sua profissão de advogada, de igual modo aos seus colegas homens.

 

 

 

 

 

 

Após ver o anúncio da série e descobrir que ela era baseada em uma história real, em que a protagonista Lidia Poët, uma italiana que se formou em direito com 26 anos de idade, sendo uma das primeiras mulheres a realizar este feito, teve o direito de exercer a sua profissão de advogada negado, apenas por ser mulher. Ela foi uma mulher firme e com muita perseverança, que caminhava à frente das perspectivas que tinha em seu tempo, para que as mulheres pudessem ter seus direitos respeitados e ampliados. Sua tese de defesa foi sobre a condição da mulher na sociedade e o direito ao voto feminino.

Na época em que Lídia Poët viveu na Itália, as mulheres só poderiam exercer a profissão de professoras, a qual ela também era formada. Era uma mulher com um vasto conhecimento, falava 4 idiomas fluentemente ( italiano, francês, alemão e inglês), e obteve a sua inscrição na ordem dos advogados de Turim aceita em 1883.

Apesar de ter conseguido ser aceita na ordem dos advogados, ela enfrentou protestos contra a sua presença no tribunal e no exercício da função, o que resultou na anulação do seu registro por uma sentença da Corte de Apelação, que era uma segunda instância da justiça em Turim. Os motivos para que Lídia Poët não exercesse a função de advogada, o que na época era de exclusividade aos homens, era de que isso atrapalharia a função principal das mulheres, que era o cuidar da casa e dos filhos, além de que as vestimentas das mulheres (vestidos longos, fechados e com volume) não seriam roupas apropriadas para se estar em um tribunal,porém o principal motivo que a Corte de Apelação alegou foi a “ infrimita sexus”: Lidia Poët não poderia exercer a advocacia por ser MULHER!

Diante desta situação, fomentou-se o debate sobre as mulheres exercerem o trabalho como advogadas, mas levantou-se mais argumentos contrários, como o fator biológico  da mulher, que é a de menstruar e estar fragilizada durante este período de alteração hormonal e assim, na visão dos que se opunham, a impossibilidade de atender aos clientes, e o outro motivo se dava por ordem legal, pois existia um Código de Família na época que proibia as mulheres de atuarem em serviços públicos.  Lídia só foi ter o direito de atuar como advogada no ano de 1919 com 65 anos de idade, quando foi aprovada a Lei nº 1.176.

Dois séculos se passaram e assistindo ao que Lídia Poët viveu, fica claro que as mulheres sempre estiveram em luta por algum direito. Sempre houve resistência, apesar de muitas vezes não termos registrado nos livros ou em documentos históricos. Porém o que mais me coloca a refletir é que os avanços apesar de importantes e necessários não refletem para o coletivo feminino.

Lídia era uma mulher de família rica, foi instruída de boa educação, ainda que fosse para o casamento (o que não aconteceu), mas não era uma mulher da classe baixa da sociedade. O que quero dizer é, com todas as lutas e avanços conquistados, ainda hoje não são todas as mulheres que gozam dos direitos que existem na lei, e as condições como: ser mulher, a social, da cor da pele, e na nossa cidade do sobrenome, ainda nos impedem dos mais básicos direitos.

Recentemente participei de alguns movimentos sociais, não é segredo que são importantes para mim, mas não me senti de todo bem estando neles. Creio que esse sentimento muitas mulheres já sentiram, que é do muito falar, mas dá pouca ação, e a ação para mim é o mais importante.

Estar nos bairros e lugares que muitas das nossas mulheres só saem para trabalhos domésticos, o que deixo claro não ser desmerecimento, mas que demonstra o tamanho da desigualdade vivida, remete ao que Lídia Poët viveu. Ela lutou, desbravou lugares, participou da criação de leis e fatos importantes onde estava, mas não conseguiu como muitas outras mulheres furar a bolha do seu lugar, para que outras em diferentes condições das quais ela tinha,  pudessem no mesmo tempo que o seu ter o direito de escolha e de mudança.

Falar em direito das mulheres e englobar a TODAS é algo muito efêmero se não levar em consideração quem são essas mulheres, de onde elas vêm, qual a sua classe social, a cor da sua pele, a sua escolaridade, a sua condição afetiva e a sua integridade física para poder lutar diante das desigualdades de gênero que sofrem.

Não quero parecer ingrata desmerecendo as conquistas até o presente momento das mulheres, mas efetivamente não alcançamos uma equidade dentro do nosso próprio gênero, e isso não sou somente eu quem falo, mas muitas pesquisadoras e mulheres brilhantes, como Lélia González, mulher negra que foi uma ativista e intelectual que contribuiu para o feminismo negro no Brasil. Também a professora e jornalista Antonieta de Barros que foi a primeira mulher negra no Brasil eleita como deputada estadual e que criou um curso para alfabetizar pessoas carentes (em sua maioria mulheres), em 1922.

Tenho a esperança de ver muitas mulheres se levantando ao mesmo tempo, para que em coletivos que considerem todas as diferenças na diferença, possamos lutar para que a cada dia, mais mulheres independente de qualquer coisa possa ser livre em direitos e oportunidades em nossa sociedade, em especial, a Itapirense.

     “As mulheres são como as águas, crescem quando se unem!”

 

 REFERÊNCIA:

https://www.terra.com.br/diversao/entre-telas/series/netflix-as-leis-de-lidia-poet-vai-alem-da-biografia-da-advogada-italiana-impedida-de-trabalhar,dfbdcae925888e55625a175ff51799b7d8wpy9ua.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lidia_Po%C3%ABt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por: Hellen Santos

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