Gazeta Itapirense

Colecionadores de santinhos, eles se tornaram guardiões da história política

A corrida eleitoral em Itapira começou e com ela a farta distribuição dos famosos ‘santinhos’ com o nome, número e coligação que o candidato pertence. Dois itapirenses muito conhecidos guardam há décadas estes papeizinhos e, sem querer, acabaram se transformando em ‘guardiões da história política de Itapira’.

O que Devaldo Cescon, o Pasté, e Valdemar Avelino de Toledo Júnior, o Mazola, tem em comum, além de trabalharem em cartórios da cidade? Fora esta coincidência profissional, ambos transformaram em hobby a coleção de santinhos dos políticos locais.

Pasté começou primeiro, durante o pleito de 1982, ainda na época da Ditadura Militar. “Eu fazia parte da equipe 12 Vort, que participava da Ginkana 30 Dia. Aí resolvi começar a guardar os santinhos para que se um dia precisasse teria em mãos. E foi o que aconteceu. Tempos depois uma tarefa da gincana pediu 20 santinhos e eu tinha de sobra”, brincou Pasté.

Ele lembrou que foi a partir de 1982 que pegou gosto pela coleção e não parou mais até o ano de 2016: “em 2020 acabei não dando sequência, mas quem sabe agora eu volto”.

Outro fator determinante para a continuidade de seu hobby foi a época em que trabalhou na apuração dos votos: “antes da urna eletrônica havia a apuração dos votos onde atuei algumas vezes. Ali tive contato com candidatos, resultados e acabei gostando da ideia”, disse.

Pasté começou em 1982 sua coleção

Ele lembra que até hoje pessoas que concorreram a uma vaga acabam procurando pelos seus livros muito bem guardados: “tem muita gente que gosta de política que vem atrás da coleção e também aqueles que disputaram eleições. Muita gente tá nos livros e nem sabe que tenho essa coleção, alguns morreram inclusive”.

Além de guardar com muito carinho e zelo cada pedaço da história política da cidade, Pasté teve a paciência de marcar ao lado de cada santinho a votação do candidato.

Outro documento histórico que faz parte do acervo é o projeto de um candidato a vereador que faria com que Itapira tivesse sua ‘praia da Enseada’. O local escolhido foi a região do condomínio de chácaras União, na divisa com Mogi Guaçu.

Guardados também estão os resultados a prefeito de cada pleito, como o de 1992 que teve como candidatos David Moro (PMDB), Luiz Arnaldo Alves Lima (PSB) e Edson Luiz Netto (PT). Só para título de curiosidade, David Moro foi eleito com 12.587 votos, seguido bem de perto por Luiz Arnaldo, que teve 10.140 e Edson Luiz com 2.331.

A histórica vitória de Totonho Munhoz por apenas 46 votos de diferença em 1996 está lá. Naquele ano Munhoz chegou faltando poucos dias e entrou no lugar de seu irmão, Bebeto Munhoz, tendo contra Alberto Mendes a disputa mais acirrada da história de Itapira.

Em 2004 chega ao fim 28 anos de domínio munhozista com a vitória e ascensão de Toninho Bellini após vitória sobre Zé Alair. Bellini foi reeleito quatro anos depois e venceu novamente em 2020.

O retorno do grupo de Totonho Munhoz se deu em 2012 com a vitória do empresário José Natalino Paganini, que governou a cidade por oito anos consecutivos.

Valdemar Avelino de Toledo Júnior, o Mazola, começou a colecionar os santinhos de políticos a partir de 1988 na eleição que teve como vencedor Bebeto Munhoz.

Mazola caminha para mais uma ‘caça’ aos santinhos

“Tinha uma pessoa que trabalhava comigo no cartório que em 1988 fez o álbum. Logo ela saiu do cartório e meu deu este que havia feito, a partir daí não parei mais, por causa dessa e porque passei a gostar de colecionar mesmo”, contou Mazola.

Questionado sobre a possibilidade de haver alguma ‘rivalidade’ com Devaldo Cescon, Valdemar garantiu que ocorreu o contrário: “eu sabia que o Pasté colecionava, e por fim a gente começou a trocar santinhos, um ajudou o outro”.

Mazola frisou também os candidatos vão até sua casa para levar seus santinhos: “quando não estou aqui deixam na caixa de correio, entregam pra minha esposa, minha irmã, fazem questão de fazer parte da coleção”, disse.

O hobby de guardar parte da história da política local traz também momentos marcantes: “o neto do Alvarino Lopes Pinheiro me perguntou uma vez se eu tinha o santinho do vô dele. Lembro que tinha um repetido e dei pra ele, que ficou muito emocionado”.

Para completar a coleção, Mazola procurou muitas vezes os candidatos nos comícios: “eu chegava neles (candidatos) e pedia. Tenho certeza que muitos pensavam que eu votaria neles. Mais da metade dos meus santinhos conseguia nos comícios, a outra metade era nos comitês e pegando ele pelas ruas”, lembrou.

Sobre o santinho mais difícil de achar ao longo dos 36 anos de coleção, ele surpreendeu ao dizer que foi o do advogado Vandré Bassi Cavalheiro, nas eleições de 2016: “eu não sei porque ele não soltou os santinhos dele, mas o fato é que até a sexta-feira antes da eleição eu não tinha, fui várias vezes atrás dele e não consegui. Mas na sexta-feira, antevéspera da eleição, o Vandré apareceu com 500 santinhos no meu serviço e deixou tudo lá, vários pacotes”.

Apesar de ter começado de forma oficial em 1988, Mazola tem em seu acervou um caderno pequeno com todos os santinhos das eleições de 1982, mas este foi um presente: “uma senhora sabia que eu colecionava e me deu, dizendo que era do marido dela, disse pra que guardar com carinho que era uma lembrança dele”.

Valdemar Avelino garante que este ano estará na ativa novamente na busca incessante para manter sua coleção.

“O interessante nesta história toda e ver as mudanças da política de Itapira, os candidatos que mudam de lado, quem vence, quem perde, e por aí vai”, finalizou o colecionador itapirense.

O fato é que o hobby destes dois itapirenses queridos por tanta gente garante a eternização de pessoas, sonhos, grupos políticos, enfim, de personagens que de alguma forma fizeram parte da história de nossa cidade.

Itapira iria ter até sua Praia da Enseada, segundo promessa de candidato a vereador

 

 

 

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