Gazeta Itapirense

ARTIGO: Banda Lira, uma banda sempre viva!, por Nino Marcati

Naquela noite, no Salão Social do Clube de Campo Santa Fé, em 14 de abril, algo especial aconteceu. Embora não tenha sido explícito, tenho a forte suspeita de que meu pai estava presente. Talvez tenha solicitado e obtido uma licença celestial, justificada mais do que merecidamente. Afinal, era o aniversário de uma das joias culturais mais importantes de nossa cidade: a Banda Lira Itapirense. Com seus 115 anos de história contínua, meu pai dedicou mais de meio século de sua vida ao saxofone dentro dela. Só desistiu quando seus dedos já não respondiam tão prontamente. O aniversário da banda era um evento especial para ele, e tive a sorte de participar de alguns ao seu lado. Até hoje, guardo na memória a felicidade estampada em seu rosto e as risadas contagiantes durante os ensaios e apresentações. Era sua vida!

Na época de meu pai, a composição da banda era totalmente diferente da atual. A maioria dos músicos ultrapassava os sessenta anos, e seu repertório refletia as melodias típicas das décadas passadas. As apresentações dominicais na praça central eram momentos de destaque, mas ao longo do tempo, o público dessas tradições foi diminuindo, restando apenas alguns casais que levavam seus filhos para apreciar a música. Entre esses espectadores estavam eu, minha esposa e meus filhos, encantados ao ver o Vô Geraldo entregando-se ao saxofone. A última apresentação no coreto foi uma despedida melancólica, selando o fim da nossa praça central como o centro de encontros e agitações de gerações passadas. No entanto, isso não significou o fim da nossa Banda Lira.

À beira do final do século passado, Mauricio Perina assumiu como maestro, enfrentando o desafio monumental de revitalizar nossa tradicional banda de música. Com competência e paciência, ele conseguiu manter, transformar e rejuvenescer a banda. Claro, houve momentos difíceis, e por pouco não vimos o poder público municipal abandonar nossa tradição. Mas também testemunhamos o povo de Itapira se levantando em apoio, demonstrando solidariedade de todas as formas até que a razão e a emoção prevalecessem.

Naquela noite, meu pai, não sei se por falta de permissão ou por ter ficado tão embasbacado, nem tentou conversar comigo. Mas consigo imaginar o que ele sentiu ao ouvir duas horas de música envolvente. Embora não fosse o seu repertório habitual, o rock não fazia parte dos seus gostos e costumes, ele certamente se rendeu à qualidade da apresentação. Certamente, ao retornar ao seu canto, ele compartilhou as novidades com seus amigos e antigos colegas da banda.

Hoje, a Banda Lira está completamente renovada e rejuvenescida, diversificando-se e incorporando novos instrumentos. Ela desenvolve projetos especiais com crianças, jovens, adultos e idosos, levando cultura e nutrindo o amor pela arte em nossa cidade. Assim, floresce a maior riqueza humana: a apreciação pela expressão artística.

Por: Nino Marcati

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