Gazeta Itapirense

Em Itapira: abortos acontecem, mas casos são camuflados

Casos de aborto em Itapira existem, mas as estatísticas são camufladas por quem os faz. Não há parâmetros na rede básica de atendimento em consequência de procedimentos mau sucedidos justamente por serem clandestinos. O assunto é um tabu e muito pouco falado.

Segundo fonte entrevistada pela reportagem, que preferiu o anonimato, os procedimentos clandestinos em Itapira são de fato esporádicos, realizados dentro de casa em condições sabe-se lá Deus como. Famílias mais abastadas, por sua vez, conduzem suas filhas para clínicas de fachadas de centros maiores.

“São situações que acontecem muito de vez em quando, de acordo com relatos que ficamos sabendo, geralmente utilizando abortivos obtidos no contrabando”, mencionou a pessoa entrevistada.

Segundo a fonte, o abortivo mais utilizado ainda é o Cytotec. Não o verdadeiro, mas o ‘genérico’, com o princípio ativo Nisoprostol, que nada mais é que uma falsificação grosseira com baixa eficácia, em geral muito comercializado na fronteira Brasil-Paraguai.

“É de lá que golpistas que agem em sua maior parte pela internet trazem o produto, já outros adquirem o falso Cytotec e revendem em Itapira a preços que são os olhos da cara”, informou.

O verdadeiro Cytotec leva em sua composição o misoprostol, introduzido no Brasil em 1984 através do laboratório Searle, sem qualquer restrição de compra nas farmácias até 1991, pois era aprovado para tratamento de úlceras gástricas e duodenal.

Conforme um site que defende o aborto, o uso de Cytotec verdadeiro é considerado terapêutico e bastante seguro. Com a utilização do abortivo clandestino, os sangramentos são recorrentes e as complicações orgânicas inerentes. Geralmente dão entrada nos hospitais públicos com outras denominações de desarranjos na saúde.

 

Dois casos, duas soluções

L.P.A. tem 28 anos. Veio ao mundo através de um estupro ocorrido em 1986 quando sua mãe foi violentada. Mesmo com a dor na alma, a mulher levou a gestação até o final e hoje a filha namora, foi mochileira e conheceu diversos países.

A vítima do abuso estudou Direito e passou em concurso público. Morou em Itapira por dois anos, mas hoje está em Campinas: “jamais pensei em abortá-la, muitas vezes eu chorei, fiquei triste em saber que minha filha foi concebida desta forma, mas nunca perdi o amor por ela”, comentou M.LV.A., 63 anos. “Sou feliz”, conta.

Na contramão, temos o relato de P.A.B., que tinha 16 anos em 2008. Foi neste período que conheceu J.G. O relacionamento precoce de ambos levou ao sexo mais precoce ainda. Mora em Itapira desde que nasceu.

A novidade nada programada de que estava grávida lhe caiu como uma bomba sobre sua cabeça. O desespero bateu forte.
Em conjunto com o namorado decidiu abortar. Utilizou ‘remédios’. Perdeu o filho e o rapaz a deixou após um desgaste que foi a gota d’água para o relacionamento ir a pique.

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