Nossa História: Lembranças de uma festa popular chamada Carnaval
Como tudo está mudado. Nem parece que o ano está começando e o Carnaval se aproximando.
Como tudo agora é bem diferente de um tempo, há pelos menos 25 ou 30 anos, quando essa era a época em que a cidade começava a ferver na espera pelo Carnaval. O corre-corre em busca de fantasias para os bailes de salão ou para os desfiles das escolas de samba era intenso, assim como os clubes iniciavam nessa época, passado o Réveillon, os preparativos para as quatro noites de folia.
Lembro bem dos anos dourados do carnaval itapirense. Os dois clubes instalados na praça principal – Clube XV e Centro Comércio e Indústria – dominavam, mas a Sociedade Operária também tinha freqüência garantida. Era comum a formação de blocos carnavalescos para os bailes nos clubes e os bares nos arredores ficavam abarrotados.
Na última noite, já com o sol nascendo na quata-feira de Cinzas, as orquestras do Centrão e do Clube XV se encontravam na praça para uma última oportunidade para os foliões se despedirem do Carnaval.
Anos mais tarde o Tênis Clube começou a realizar bailes carnavalescos, atraindo para si os freqüentadores do Clube XV. Posteriormente foi a vez do Clube de Campo Santa Fé dominar, esvaziando o Tênis e também o Centrão.
O Carnaval de rua, com a disputa das escolas, era de arrepiar. A partir do início de janeiro as escolas buscavam o que havia de melhor no que diz respeito a passistas, músicos, cantores e alegorias com o intuito de vencer a disputa.
Colocavam seus blocos na avenida escolas como Nove de Julho, Imperatriz da Santa Cruz, Mocidade Alegre da Vila Boa Esperança, Acadêmicos da Vila Ilze, Unidos da Vila Bazani e outras menos votadas. A multidão que lotava as arquibancadas montadas na praça Bernardino de Campo delirava durante a passagem da escola preferida. Sem falar do Bloco dos Bichos e suas sátiras e a Banda do Nheco, que nasceu na década de 80 e até hoje encanta crianças e adultos.
A disputa das escolas era tão intensa que a Rádio Clube dedicava boa parte de sua programação na divulgação das escolas e seus sambas de enredo. Os programas do Dácio Clemente, pela manhã, e Paulo Marim, à tarde, atendiam ouvintes pelo telefone e entre as músicas pedidas estavam os enredos das escolas locais, normalmente gravados em estúdios profissionais.
Sem contar que à noite a emissora abria espaço para os programas carnavalescos comandados pela Conceição Pavezzi Dantas, que entrevistas dirigentes, passistas, costureiras e quem quer que fosse, desde que estivesse envolvido na folia. A audiência era maciça devido ao grande apelo popular que o Carnaval sempre teve na cidade.
Hoje tudo isso acabou. Não há mais carnaval de salão no Clube XV ou no Centrão e muito menos no Tênis Clube ou no Santa Fé. Esse tipo de festa perdeu o apelo, principalmente devido ao gosto musical da atualidade, que não permite mais que as tradicionais marchinhas de Carnaval sejam executadas pelas orquestras nos bailes carnavalescos. Se não for funk, axé ou coisa parecida, ninguém dança.
O Carnaval de rua também perdeu o encanto. As arquibancadas, apesar da gratuidade, só lotam nas noites em que a Banda do Nheco se apresenta. As escolas fecharam suas portas e apenas algumas insistem em desfilar, mais pela garra de alguns abnegados.
A Rádio Clube, apesar de transmitir os desfiles, não enfatiza mais o Carnaval em sua programação, mesmo porque não há o que divulgar ou quem entrevistar. Tudo isso ficou no passado, embora bem guardado no baú de memórias de quem vivenciou esses bons momentos.
- Coluna publicada pelo jornalista Humberto Butti (in memorian) na versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense