Nossa História: Bom Jesus, mais que um clube, uma família
Desde os áureos tempos do velho estádio Chico Vieira, ao lado do Parque Juca Mulato, muitos clubes de futebol amador foram fundados na cidade. Inúmeros passaram e fecharam as portas, apenas escrevendo seus nomes na história.
Outros, porém, permanecem vivos e mais que clubes, se transformam em verdadeiras famílias. Um exemplo vivo é o União Bom Jesus, fundado no final da década de 70 no alto da Vila Bazani.
Com as cores vermelha e branca, tornou-se um dos mais bem organizados e respeitados clubes amadores de toda a região.
Meu primeiro contato com o Bom Jesus ocorreu em 84, quando iniciava minha carreira de repórter esportivo no jornal Cidade de Itapira e na Rádio Clube. Naquele ano o time da Vila Bazani estava envolvido na disputa do título da Copa Itapira daquele ano diante do Vila Ilze.
Apesar de perder a disputa, a diretoria do Bom Jesus, encabeçada pelo presidente Gilberto Lima, fez questão de reunir jogadores, dirigentes, torcedores e alguns convidados, eu entre eles, para uma comemoração. Foi ali que vi a importância que o clube tinha na vida de cada um deles, que prezavam muito mais a união que propriamente a conquista de títulos.
Passei a admirar o Bom Jesus, não só pela organização que dava inveja a muitos clubes profissionais, mas principalmente pela união e pelo amor àquela camisa.
O trabalho feito pelo presidente Gilberto Lima, pelo diretor José Natalino Paganini e pelo técnico Antonio Ricardo Zago, o Piquica, respaldados por pessoas que também tinham amor pelo clube, era correspondido plenamente pelos jogadores que dentro de campo mostravam respeito pela camisa que vestiam.
Lembro bem com detalhes de diversas passagens envolvendo o Bom Jesus. Uma delas, épica, ocorreu na quinta-feira Santa de 88, durante a disputa da fase semifinal da Copa Itapira do ano anterior.
Em campo, novamente, Bom Jesus e Vila Ilze, desta vez em busca de uma vaga na decisão da competição.
Depois de um empate em 1 a 1 no primeiro jogo, as duas equipes se enfrentaram perante um público de mais de 600 pagantes e o Bom Jesus chegou a abrir 2 a 0, mas acabou cedendo o empate e a partida foi para a prorrogação, vencida pelo Vila Ilze já na madrugada da sexta-feira Santa. Um jogo que quem presenciou jamais esquecerá.
Lembro também quando o Mogi Mirim, em preparação para o Campeonato Paulista de 93, veio a Itapira para um jogo-treino e, graças ao trabalho que fiz juntamente com o jornalista Paulo Rogério Tenório, na época repórter esportivo do jornal O Impacto e hoje editor-chefe do Tribuna de Itapira. Conseguimos convencer o gerente de futebol do Mogi, HenriquePeres Stort, e o técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão, de que o melhor para o Mogi seria enfrentar um time organizado, embora amador.
Ambos entenderam e o Mogi enfrentou o Bom Jesus diante de um grande público no Benedito Valério, o Jauzão da Vila Bazani. Em campo estrelas como Válber e Leto – Rivaldo, em vias de renovar contrato, apenas veio ao jogo, mas não entrou em campo.
Até hoje tenho boas recordações daquele tempo em que o futebol amador itapirense era bem servido de clubes que realmente representavam seus bairros. Um tempo em que havia o Vila Ilze, o Vila Izaura, o Cubatão, o Bom Jesus, o Bela Vista, o Usina, o Unidos dos Prados, o Barão e tantos outros clubes que gravaram seus nomes na história do futebol local.
Ou então da partida amistosa com o Vila Ilze, seu grande rival, no Pedro Bagini, em um feriado de 7 de Setembro, diante de um público enorme. Mesmo no reduto do adversário o Bom Jesus acabou vencendo por 1 a 0, gol de cabeça marcado por Pedrinho Zázera.
Na minha memória guardo o Bom Jesus como um dos clubes mais importantes do futebol amador itapirense. Não apenas pelos inúmeros títulos que conquistou, tanto na categoria principal como na de aspirantes, mas principalmente pelo senso de organização de seus dirigentes e pela união existente naquela época.
Coluna publicada na versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense de 02 de novembro de 2013 pelo jornalista Humberto Butti.