Nossa História: Minha primeira eleição
Sou de um tempo em que se aprendia, de fato, nos bancos escolares. Um tempo em que os valores morais ditavam as regras e o respeito para com os educadores era o mesmo que tínhamos em casa, para com nossos pais.
E naquele tempo o aluno saía do quarto ano primário afiado, sabendo de fato ler e escrever. Se não aprendesse era reprovado e havia a necessidade de cursar novamente a mesma série no ano seguinte. Bem diferente do que temos hoje no ensino de modo geral.
Tive excelentes educadoras, principalmente nos quatro anos de primário. Professoras como Ismaelina Proença Pinto, Genny Piva Zázera, Gilmery Vasconcellos Pereira Ulbricht e Ivone Pegorari Vieira foram pessoas fundamentais na minha educação, tanto na formação escolar como na formação moral.
Lembro bem que minha afeição aos números já vem de longe, dos primeiros anos de Júlio Mesquita. Gostava dos números e das estatísticas que eles proporcionavam.
E foi dessa forma que vivi intensamente minha primeira eleição. O ano, lembro bem, era 1968. A disputa pela cadeira de prefeito tinha nomes respeitáveis como Hélio Pegorari, César Bianchi e Alcides de Oliveira, pela Arena, e Pedro Boretti, pelo MDB, que era a oposição.
Claro que eu não era eleitor ainda, afinal tinha apenas 11 anos, mas pela proximidade da casa de meus avós paternos com a residência dos Bianchi, na João Pereira, meu candidato na disputa passou a ser o César Bianchi.
Acompanhei a apuração dos votos através da Rádio Clube e marcando atentamente cada urna em uma folha de papel de embrulho. Tudo muito bem feito, com a supervisão de minha mãe, que também gostava de acompanhar a apuração.
César Bianchi não ganhou. Ficou em terceiro, atrás do Alcides de Oliveira. O eleito foi Hélio Pegorari, que foi um grande prefeito. Mas o que ficou na minha memória foi meu interesse por algo inusitado até então para aquele menino magricela de orelhas grandes.
Às vezes paro para pensar qual motivo me leva ao prazer de registrar essas lembranças. Aí descubro que o maior motivo talvez seja o de perpetuar algo nobre que existe em meu cerne para que, quando futuro se transformar em presente para minha pequena Mariane e eu talvez já faça parte do passado, ela possa descobrir, através desses escritos, um pouco do que o pai dela viveu na infância e na adolescência.
Coluna publicada pelo jornalista Humberto Butti na versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense de 17 de setembro de 2014