Crônica: O fumante onírico, por Rodrigo A. de Carvalho
Ano que vem completo dez anos sem fumar. Uma conquista não só pessoal, como também para meus amigos mais chegados, já que em nossa turma, somente eu fumava, e a todo momento era censurado por tal maléfico hábito que indiretamente prejudicava a todos.
Como acontece na maioria das vezes, comecei a fumar para me enturmar com os colegas de colégio, e sempre tinha aquele pensamento convicto de que, quando quisesse, iria parar.
Após vinte anos, eu ainda não havia conseguido parar, o que me causava um certo constrangimento, já que me achava fraco e sem força de vontade o suficiente.
Até que, num dia qualquer, no trabalho, minha patroa (hoje ex-patroa) que também era fumante me disse que iria parar, porém, ela era muito mais viciada que eu, a ponto de acender um cigarro com a guimba de outro e fumar praticamente o dia inteiro. Para mim, era mais fácil meus amigos todos que me censuravam começarem a fumar, do que a patroa parar.
Passou um dia, uma semana, um mês e ela realmente não mais tragou. Criei coragem, força e vontade e acompanhei sua determinação, se ela conseguia, eu também conseguiria, e estamos nós dois há quase dez anos sem fumar.
Entretanto, de vez em quando me pego fumando escondido, ou melhor, do nada, saco minha carteira de cigarro, acendo e dou umas tragadas.
Então me lembro que parei de fumar. Por que estou fumando?
Somente na manhã seguinte constato que tudo foi um sonho e que durante minhas aventuras oníricas, ainda sou um fumante.
Hoje, enquanto estou acordado, não sinto a menor vontade ou mesmo lembrança do cigarro, mas em certas noites, ainda sinto o “prazer” de um cigarrinho enquanto dirijo minha nave espacial, ou estou numa festa submarina (afinal de contas, posso fumar onde eu quero num sonho).
Estou tentando parar, já que em sonhos recentes, tenho entrado em farmácias e mercados abandonados para procurar adesivos ou um chiclete de nicotina, que na verdade tem sabor de maçã verde, na tentativa de sentir nojo do cigarro fumado no sonho.
Não tem dado muito certo, porque em outras noites, estou tomando o cafezinho fantasioso dos sonhos, ou um chopezinho (também só bebo álcool nos sonhos), o que me dá mais vontade de fumar, principalmente aqueles cigarrinhos que passam voando com a brasa acesa e vão parar direto entre meus lábios.
Alguma providência tenho que tomar. Não dá para aturar um fumante no sonho na minha cama à noite, principalmente, quando o fumante sou eu e eu mesmo não fumo.
Meu maior medo, é na hora do rala e rola com as namoradinhas dos sonhos, pois, fumando constantemente nos sonhos, uma hora vai me faltar fôlego quando estiver nas intimidades, seja com a Juliana Paes, a Debora Secco ou a vizinha bonitona.
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2022 relançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores, disponível na Amazon, Americanas.com, Estante Virtual e Submarino.