Gazeta Itapirense

Homem deixa o tráfico para furtar metais: “se for preso, a pena é menor”

Nossa reportagem conversou neste fim de semana com um viciado em drogas que mudou de ‘profissão’ para escapar da cadeia: de traficante, virou furtador de metais, em especial fios de cobre.

Com 39 anos de idade F.R.B.P. é usuário de drogas desde os 13 anos, época em que morava na região do bairro São Vicente, aqui em Itapira.

Do primeiro ‘tapinha’ em um cigarro de maconha para as carreiras de cocaína foi tudo muito rápido: “comecei a fumar para fazer graça para as meninas, querer dar uma de ‘maluco’ e não parei mais”, contou.

Com as drogas vieram as brigas familiares, o distanciamento dos verdadeiros amigos e a dependência cada vez maior pelo pó.

Depois que os pais e familiares começaram a cortar o dinheiro, ele passou a fazer pequenos bicos, mas sem nunca ter uma profissão de verdade. “O pouco que trabalhava era para comprar cocaína, nem me preocupava com comida, roupa, queria cheirar, só isso”, lembrou.

Antes mesmo de completar a maioridade veio a primeira prisão. É que para sustentar o vício, passou a vender drogas e, ao invés de dinheiro, recebia pinos de pó.

“Acabei na Febem (atual Fundação Casa) e de lá saí pior ainda. Só queria saber de traficar e cheirar, mais nada. Depois que fiz 18 anos acabei preso mais duas vezes por tráfico e de uns tempos pra cá mudei. Não trafico mais, furto metais, se for preso não fico muito tempo, na maioria das vezes saio na audiência de custódia. Já o tráfico é mais carrasco”, explicou.

E. contou que de uns tempos pra cá a ‘concorrência’ por metais está muito alta: “onde você vai tem nóia, essa turma que usa crack faz de tudo para conseguir 10 reais e comprar pedra. Já teve vez de eu brigar com um malandro que quis me roubar o fio que eu tinha furtado de uma casa em construção. É mole, assim não dá. Daqui a pouco vamos ter que andar com segurança mano”, brincou.

“O que eu faturo numa noite furtando metais garante dinheiro para eu comprar o que gosto. No tráfico a cana é brava parceiro, não trafico mais não. Furto é mais suave”, finalizou.

 

Problema social

Ouvimos o delegado Titular de Itapira, Dr. Anderson Cassimiro, que elencou alguns pontos desta mudança de ramo de alguns dependentes de drogas.

“A gente tá falando aí do traficante que é o vendedor final. Na nossa legislação, a pena é mais severa conforme a gravidade do fato e realmente há uma diferença entre quem mata, trafica e furta. No furto não há violência e nem ameaça à vítima, apesar de todos os outros transtornos. Mas o que acontece, o juiz e o promotor seguem a Lei, e no caso do furto a pena é menor mesmo”, explicou o delegado.

Dr. Anderson destacou, porém, que pode existir o aumento da pena quando o réu tem vários processos por furto, soma-se todos e pode ser dar um tempo maior de cadeia.

O delegado frisou que “muitos destes que migraram para o furto são pessoas que de certa forma deixam de ser atrativas para o tráfico, que começam a trazer dor de cabeça para o tráfico, aí eles não têm mais esta chance de permanecer neste nicho. E como não tem mais família e de onde levantar dinheiro, passam a praticar estes pequenos furtos, em especial o furto de fios de cobre”.

“É preciso buscar junto com a aplicação da pena, a reinserção desta pessoa na sociedade, porque se não houver a recuperação ela volta a praticar o crime de novo. No fundo, no fundo, trabalhar pela ressocialização das pessoas que podem ser recuperadas, é melhorar a condição da sociedade como um todo”, encerrou o delegado.

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