Nossa História: Tenente Pintor, O “Carlitos” de Itapira
“Sempre é bom relembrar o passado. A nostalgia das recordações mexe com o nosso sentimentalismo saudosista produzindo novas emoções e quase sempre revelando novos fatos que enriquecem ainda mais o passado das pessoas, dos momentos e das coisas”. (Sérgio de Freitas)
Prefaciado por este grande historiador e escritor de Itapira, nosso trabalho de hoje pretende justamente relembrar o “Tenente Pintor” ou “Tenente Tabaco”, como era conhecido Antenor Rodrigues, pessoa da qual muito já foi dito por aqueles que pesquisam nossa história.
Sua colaboração para o desenvolvimento do meio artístico desta terra foi fundamental, embora tenha vivido quase que anonimamente e ter passado apenas como figura exótica circulando pelas ruas de nossa cidade.
O mesmo Sérgio de Freitas contou ter conhecido Antenor Rodrigues quando este já computava idade adulta, cerca de cinqüenta e oito anos, e ele, Sérgio, garoto entre nove e dez anos. Dizia ser o artista uma figura bonachona, gorducha, lento no caminhar e falar, barba sempre por fazer e com as vestes, seu uniforme de trabalho, sempre sujas de tinta, local onde os pincéis encontravam abrigo para a limpeza.
– Era introspectivo. Pouco falava de sua vida pessoal, dos problemas sentimentais e do passado. Não desabafava, era muito solitário e remoia sozinho suas emoções. Às vezes tornava-se irritadiço e era rude com as palavras, principalmente quando notava segundas intenções de seus interlocutores, ou quando procuravam saber de sua vida – Este relado foi de seu grande amigo Paulino Santiago, que achava-o muito triste e com algumas mágoas.
Além de pintor nato, pois era autodidata, encontrava-se também em seu rol de dotes artísticos o músico. Era um exímio violonista que além de dedilhar solitário fazia parte de um conjunto musical juntamente com Luis Pupo Cintra, Mauro Machado, “Chico Parafuso”, Delfino Alvarenga e Lázaro Andrade.
Depois do término de um casamento frustrado com uma senhora da vizinha Mogi Mirim, que não lhe deixou descendentes, retornou para Itapira e morou inicialmente com o Joãozinho Brandão, dono da barbearia na Rua José Bonifácio. Posteriormente foi morar numa casinha que Erasto de Almeida, o Tatíco, construiu em terreno de sua propriedade, ao lado do escadão que dá acesso à pinguela do Cubatão.
Na maioria de suas pinturas ele retratou paisagens rurais com muita água, certamente pelo fato de gostar muito de pescar e ao mesmo tempo observar o reflexo das paisagens na água. Tinha muito medo, por isso não ia muito longe para pescar sem ter ao lado um companheiro. Era muito comum vê-lo pescando bem próximo de sua casa, ali mesmo na barragem de captação de água do SAAE, quando lá ainda existia peixe.
Normalmente, acompanhado de seu cachorro ‘Negrinho’, pois gostava muito de animais, estava sentado à tardezinha ou logo após o almoço, na soleira da porta traseira do ‘Centrão’, na Rua XV de novembro.
O café da manhã era sempre graciosamente oferecido pelo China e o Lamartini, no Bar Central, local onde também encontrava sempre os seus aperitivos. Lá, as histórias, chacotas e brincadeiras ligadas ao seu tipo incomum e popular eram freqüentes. O respeito à sua pessoa e seu trabalho era mesclado com alguma zombaria e pilheria, como acontece sempre àqueles que tem em suas vidas um pouco do eterno “Carlitos”.
Era filho de Francisco Bueno Rodrigues e de Elíria Rodrigues de Godoy. Nasceu em Itapira no dia 20 de abril de 1903 e faleceu aos setenta anos de idade em 26 de julho de 1973. Não se sabe se nasceu rico, mas é certo que terminou seus últimos dias muito pobre num leito da Santa Casa local. Apesar disto não lhe faltou recursos nem amigos que o confortassem até o fim. (Fonte de pesquisa: Site de Sérgio de Freitas)
Coluna publicada originalmente na versão impressa do jornal A Gazeta Itapirense, em 28 de janeiro de 2011