Nossa História: N.S. da Penha, A Padroeira
Controvérsias à parte sobre a data da fundação de nossa cidade, seja ela no dia em que houve o início do desmatamento para a criação daquela orada, em 24 de outubro de 1820, ou ainda em 19 de março de 1824, quando foi celebrada nela a primeira missa.
A verdade é que o fato se deu em torno de um símbolo religioso e voltado para a fé praticada pelos primitivos moradores desta localidade e portanto, tem que ser comemorada condignamente.
O fato é, que na segunda data aventada para a possível fundação da cidade, uma imagem de Nossa Senhora da Penha foi trazida em procissão pelos moradores da região – note-se que era um Dia Santo, de São José, em que os lavradores não trabalhavam – até o alto da colina, onde hoje se encontra o centro da cidade e ali foi entronizada no interior da capela, ora concluída, para esta finalidade.
Foi celebrada uma Santa Missa pelo Reverendíssimo Padre Antonio de Araujo Ferraz, missionário de passagem por Mogi Mirim e que pela longa amizade contraída com Manoel Pereira da Silva, aceitando o convite deste, dirigiu-se até estas paragens, cuja localidade era chamada de Bairro dos Macucos.
Até então, a dita imagem era venerada em um oratório existente na residência de João Gonçalves de Moraes, que situava-se lá pelos lados onde hoje se encontra a movimentada Avenida Rio Branco. Desde aquela data esta mesma localidade passou a ter o nome de Penha da Boa Vista.
De lá até nossos dias a imagem da padroeira repousou serenamente no altar mor do templo a ela edificado, enfrentando tranquilamente todas as alterações e transformações arquitetônicas pelas quais ele tenha passado nesse período. Além de símbolo maior da religiosidade de um povo ela representava um tesouro histórico de rara beleza e significado cultural impar.
Trazida de Portugal pelos antepassados de João Gonçalves de Moraes, ela foi por ele e sua esposa dona Maria Alves Leme, doada à população local através de um documento que, segundo alguns historiadores pode ser considerado a certidão de nascimento de Itapira.
O referido documento trata-se de uma escritura pública onde o doador renuncia aos direitos não só da imagem, mas também da gleba ao entorno da capela onde teria início o povoado. Trata-se de um texto extenso e, portanto transcrevemos apenas o trecho da doação da imagem: “Digo eu, João Gonçalves de Moraes e minha mulher Maria Alves Leme, que entre os mais bens que possuímos, livres e desembaraçados (…) no Bairro dos Macucos, dentro de nossa casa e domínio onde moramos, uma imagem de Nossa Senhora da Penha, de madeira, medindo dois palmos e meio de altura com o seu Menino Deus, e sua coroa de prata, cuja imagem eu, doador, possuí por herança de meus pais, e vendo a grande devoção que o povo deste bairro presta a dita imagem (…) gratuitamente doamos aos habitantes deste lugar (…) e desistimos de todo domínio que nela temos a fim dos mesmos (…) sem que tenham jamais em tempo algum direito de a tirarem do mesmo lugar…”
Pena que vândalos ou mesmo comerciantes de antiguidades não tenham tomado conhecimento deste documento. É no mínimo lamentável que, no dia 27 de dezembro de 1995, a tão preciosa imagem tenha sido, por mãos hereges, retirada furtivamente de seu trono, ela, que estava há mais de 175 anos entre nosso povo.
Ao abrir o jornal “Cidade de Itapira” naquela manhã de sábado, 30/12/1995, a população ficou estarrecida com a trágica notícia do roubo da imagem da padroeira. A reportagem dizia: “Até o momento não existe pista dos meliantes e nem sobre o paradeiro da Santa Padroeira, o que vem mobilizando toda a imprensa da região, cujo caso torna-se um verdadeiro mistério para a polícia desvendar, pois quando do ocorrido, não havendo nenhuma testemunha que pudesse notar a ação criminosa, apesar do furto possivelmente ter ocorrido no período da manhã daquele dia fatídico para os católicos e devotos de Itapira.”
A preciosa imagem jamais foi recuperada. Nenhuma notícia houve mais de seu paradeiro. Porém, a fé deste povo continua inabalável e os devotos de Nossa Senhora da Penha continuam levando suas preces e recebendo graças. No último dia 08 a Mãe de Jesus foi mais uma vez exaltada e venerada na imagem da padroeira, que embora seja uma replica da original, tem recebido a mesma devoção do povo desta terra.