Gazeta Itapirense

Seção Nossa História – Caminhada de São Paulo a Itapira

Parecia até imprudência ou insensatez daqueles dois jovens professores de Educação Física, mas não era. Tratava-se de determinação, de uma forma para testar seus limites.

O fundamento de tudo aquilo era a transformação da experiência vivida com aquele feito em um laboratório que levantava questões não somente de resistência física, mas também psicológicas que transformariam para sempre a vida daqueles dois homens.

A idéia era antiga. Desde os tempos da faculdade, quando participavam do Clube da Aventura, fomentavam o desejo de realizar o intento. Agora não seria apenas uma aventura, mas uma valiosíssima experiência profissional.

Muita gente acompanhou a chegada da dupla

O tempo era muito curto para todos os preparativos da caminhada. Fazer o levantamento do percurso e uma preparação física adequada tomaria, de outros, muito mais do que um mês. Mas, aqueles jovens obstinados em apenas trinta dias estavam prontos para a realização do sonho a muito acalentado.

Laércio e Barreto em mais um ‘click’ em Itapira

O sistema adotado para percorrer o caminho era o do Exército: caminhar cinqüenta minutos e descansar 10 minutos. Tudo pronto, tudo preparado. Com mochilas que pesavam entre quatro e seis quilos, na manhã de 21 de dezembro de 1961 defronte a Igreja da Consolação, deixaram a capital paulista em direção a Itapira.

Foram 179 Km percorridos em 74 horas, ou seja, três dias mais duas horas, sob o sol escaldante do verão brasileiro e o forte mormaço exalado pelo asfalto, pois a caminha foi realizada às margens da rodovia Anhangüera.

Dormir ao relento sobre um plástico estendido no chão tendo apenas a proteção de um pequeno cobertor, sofrer dores musculares e articulares, passar fome e sede foram apenas pequenos detalhes que não conseguiram tirar a coragem dos dois aventureiros. Nem mesmo as bolhas nos pés causadas pela falta de tênis apropriados (um usou sapato Vulcabrás, de sola dura, e o outro um conga, da Alpargatas) diminuíram o ânimo daqueles dois caminheiros.

Coroada de êxito a intentona teve sua chegada na noite de 23 de dezembro, às vésperas do Natal e foi com calorosa recepção que o povo itapirense acolheu seus diletos conterrâneos que foram saudados como heróis do esporte desta terra. A População saiu às ruas para congratular-se com os corajosos atletas lotando os dois lados da Rua José Bonifácio e cobrindo de aplausos os destemidos. Até mesmo o jornal campineiro “Diário do Povo”, através de seu correspondente Jacomo Mantado, noticiou, em sua edição de 03 de janeiro de 1962 o feito daqueles dois jovens: “Ao atingir o centro da cidade, dando por finda a longa caminhada, os jovens professores foram saudados pelo Diretor do Instituto de Educação Dona Elvira Santos de Oliveira, professor Pedro Ferreira Cintra e pelo acadêmico Carlos Stefanini.”

Os protagonistas dessa história fantástica que marcou época em nossa cidade foram os professores José de Oliveira Barreto Sobrinho e seu amigo Laércio Salvador Leme Filho.

 

(Acervo fotográfico: José de Oliveira Barreto Sobrinho)

Coluna publicada originalmente em 16 de junho de 2011 na versão impressa de A Gazeta Itapirense

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